Festival OFFF Oeiras’09
Oeiras
7-9 Mai 2009
O segundo dia de OFFF surpreende-nos, logo pela manhã, com um vídeo dos Devo portugueses à solta pelo Rio Alva, ou, se preferirmos, dez minutos de Jackass estilizado. Os bloopers finais revelam Paulo Segadães, baterista dos Vicious Five, a soprar ao balão sob suspeita de ter cuidado da imagem do tal vídeo. Mal sabem os polícias do passado musical do rapaz… O vilão Joaquim Albergaria, também dos Vicious Five, contribuiu também como copywriter. Sounds like talent. Logo de seguida, Aaron Koblin, rapaz capaz de quebrar uns quantos corações entre as designers, deu conta do processo que conduziu ao fabuloso teledisco “House of Cards”, dos Radiohead. O rosto de Thom Yorke - em relevo - fica bem melhor nos ecrãs gigantes do que preso num recipiente cheio de água. MA


Senking © Margarida Pinto


Senking

Foi só depois de cerca de meia hora de espera que o programa musical do segundo dia do festival se iniciou, com Jens Massel. Sob o pseudónimo de Senking, o alemão começou no espaço Loopita o seu processo de condução de batidas de estrutura estável. Antes disso o Miguel Arsénio tinha demonstrado toda a sua categoria enquanto profissional do Pro Evolution Soccer, com uma vitória impecável ao leme do FC Barcelona, ao mesmo tempo que seduzia as meninas da banca CLIX ali ao lado, demonstrando mais dinâmica, envolvimento e brilhantismo que a actuação do alemão. A previsibilidade da tapeçaria rítmica, mecânica, acabaria já para o final por soar pastosa, dada a sua pouca inventividade. Como ponto positivo, Senking teve uma certa vertente hipnótica, mas que se poderia confundir com sonolência. Nuno Catarino


Pixel © Margarida Pinto


Pixel

Já a actuação seguinte, da responsabilidade de Pixel, apresentou-se como das melhores performances do dia. Tendo começado por fazer uma abordagem textural, expondo individualmente os elementos numa exploração minuciosa, quase científica, Pixel foi depois trabalhando-os numa evolução progressiva, que foi ganhando evidentes contornos rítmicos. Esta actuação altamente dinâmica teve eco visual numa espécie de sismógrafo que, através da projecção vídeo num ecrã gigante, fazia o registo visual da evolução sonora. Tendo começado de forma abstracta, a actuação desenvolveu-se criativamente de forma quase mutante e explodiu para um final altamente dançante. Como única nota negativa poderá ser apontada a curta duração, já que se poderia ter prolongado um pouco mais, especialmente nessa vibrante parte final. NC


Kangding Ray © Margarida Pinto


Kangding Ray

Um dos vários Raster-Noton presentes no evento, o interessante Kangding Ray assumiu os comandos depois das 19. Como ainda por cima se apresentou sem banda (que o acompanha em alguns eventos), surpreendeu muitos dos presentes no público com algumas músicas em que canta, num misto de electro –pop de câmara computorizada, relembrando Gary Numan numa versão sonolenta. Sem animação nos projectores que distraísse muito, o som seguiu durante largos minutos muito calminho, chato até. Mas aos poucos, o “clicks and cuts” da música finalmente tomou conta e o ambiental transforma-se num techno “Kompakt-Mille Plateaux friendly” que acordou as hostes que aproveitavam para a soneca inter-conferências. Começou interessante, ficou chato mas depois acabou ainda mais interessante. Música todavia longe do fulgor criativo de alguns dos seus companheiros de label. Mas essa é outra história. NL


COH © Margarida Pinto


COH

Para entender o que trouxe COH (Ivan Pavlov) até ao OFFF, é necessário reconhecer a voz que segredava e gritava entre blocos e labirintos industriais controlados pelo cientista russo. Revisitemos então o perfil da senhora Cosey Fanni Tutti: figura de culto da pornografia britânica vintage (a casualidade de Sexangle torna-o imperdível), modelo de álbuns fotográficos dedicados ao nu macabro, operadora de linhas quentes em part-time (chegou a ser paga para silenciar o telefone entre o calor das suas pernas). Ultimamente toca no circo do horror dos Throbbing Gristle. Sem ter estado fisicamente presente, Cosey Fanni Tutti oferece pedaços vitais de intimidade, prazer e cólera, que são depois aplicados como peças-chave no puzzle electrónico de COH, numa espécie de COH Plays Cosey em versão remisturada 5.1.. MA


Vladislav Delay tcp Uusitalo © Margarida Pinto


Vladislav Delay tcp Uusitalo

Anunciar a presença do prodigioso produtor Sasu Ripatti como Vladislav Delay aka Uusitalo deixa expectante quem sabe da variedade estética comportada por ambos os pseudónimos. O finlandês (tcp Luomo) consegue superar o nosso Gabriel Abrantes em termos de prolificidade e é raro o semestre que não carimba o seu nome num disco (Symptoms, a novidade mais pop com AGF, estala por aí agora). Serve isto para explicar que o conteúdo da actuação seria uma incógnita até que a hora chegasse. Fossem todas as incógnitas assim, pois o que Ripatti conseguiu foi um épico de mobilidade entre o analógico e o digital - dádiva grande como o rio que passa por debaixo da ponte que une Vladislav Delay e Uusitalo, conforme os conhecemos aos representativos Entain (aurora experimental) e Vapaa Muurari Live, respectivamente. Enquanto os olhos foram preenchidos por uma paisagem abstracta e assimétrica (na sua essência, parecida com esta), o Solskjær da noite sustentou uma longa trip, que nunca chegou a ser extremamente intricada ou presa aos ritmos mais básicos e dançáveis. Ficou-se pelo mais proveitoso intermédio. Ou seja, o Moby está realmente acabado. MA
· 11 Mai 2009 · 20:06 ·

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