Felix Kubin / Ms. John Soda - Germanland – Panorama das Músicas da Alemanha
Theatro Circo, Braga
21/22 Set 2007

Viu recentemente a luz do dia um estudo do Eurostat (organização estatística da Comissão Europeia) revelando que Braga apresenta, no conjunto das cidades europeias, um dos mais elevados índices de satisfação por parte dos seus habitantes que manifestam o gosto pela cidade onde vivem. Seria precipitado apontar o Theatro Circo como um dos pilares desse bem-estar proporcionado pela cidade, mas é com certeza razoável ver nele um relicário de espectáculos que atraem bracarenses e forasteiros. A ocasião aqui em apreço é o evento Germanland 2007 – Panorama das Músicas da Alemanha, uma iniciativa inaugurada em Fevereiro deste ano e cujo intuito é dar a conhecer nomes menos sonantes, mas ainda assim proeminentes da cena musical alemã da actualidade. Duas propostas constituem este novo acto do evento: Felix Kubin e Ms. John Soda. Inicialmente previstas para Fevereiro e Março deste ano, as actuações acabaram por ter lugar este mês no pequeno auditório do teatro bracarense agora restaurado. Sendo que em Portugal nem Kubin nem Ms John Soda gozam de particular popularidade, a rumagem ao Theatro Circo seria maioritariamente ditada pela curiosidade da descoberta.

Pelas 22h de sexta-feira, tudo a postos para a actuação de Felix Kubin. Avistam-se em palco uma mesa de mistura, dois teclados e um sampler, as ferramentas indispensáveis ao músico originário da cidade de Hamburgo. É com eles que Kubin constrói as suas composições electrónicas não convencionais dignas de prender a atenção. Da bagagem recheada de projectos vários e inúmeros registos editados, teve especial destaque, esta noite, o disco Matki Wandalki, o último álbum do alemão e mais um lançado pela sua própria editora, a Gagarin Records. Em palco, fez tudo enquanto “one-man-showâ€: cantou em alemão e polaco, dançou, mostrou um vídeo animado e tentou cativar o público com o seu humor irónico. Tempo ainda para invocar os japoneses The Plastics e cantar “Lightning Strikes†em homenagem a Klaus Nomi, o ícon alemão dos anos 80 já falecido que misturava ópera com um registo electrónico.

Felix Kubin © João Pedro Barros

Kubin é merecidamente um dos nomes mais falados da música feita actualmente na Alemanha. Contudo essas valências de músico criativo, de travo futurista e créditos firmados não encontraram no pequeno auditório do Theatro Circo o espaço ideal para serem convenientemente atestadas. Para além do que foi dito acerca da música em si, importa referir que nela está sempre presente uma vocação dançante. Ora, um auditório é por norma castrador de qualquer tentativa de abanar a anca, pelo que Felix Kubin não teve o cenário que pretendia. Não baixou os braços e tentou, ainda assim, convencer o público a deixar a cadeira e vir para junto do palco. Mas a sala, cuja ocupação ficou-se pela metade, mostrou-se impávida durante quase toda a actuação que se estendeu por uma hora e meia.

Radicalmente diferentes, os Ms. John Soda subiram ao palco no dia seguinte. Stefanie Bohm e Micha Archer são o núcleo duro da formação conhecida como duo e carregam o peso dos seus curricula: ela como teclista dos Couch, ele enquanto membro dos Notwist. A actuação esperar-se-ia promissora, até porque, em Braga, se apresentariam com mais dois músicos e um arsenal de instrumentos maior. Assim, pelos 4 músicos em palco se foram repartindo os elementos guitarra, baixo, bateria, teclados e voz, com a banda a revelar versatilidade na mudança de um instrumento para o outro. Stefanie Bohm ao microfone faz lembrar Elizabeth Fraser dos Cocteau Twins com a sua voz etérea a debitar frases quase imperceptíveis. O outro atributo de Bohm é o manejo do baixo, elemento central na construção da sonoridade imputada à banda.

Ms. John Soda © João Pedro Barros

Na música dos Ms. John Soda uma grande fatia de tempo é preenchida com longos instrumentais. Micha Archer é o maestro, sendo que a “batuta†mais não é que o seu laptop. Algures pelo meio do concerto, a voz de Bohm muda de tom, sai mais projectada, como se pretendendo enveredar por uma direcção nova. A interpretação de “No. Oneâ€, um dos temas fortes do álbum Notes and the Like, do ano passado, é disso exemplo. É também exemplo da influência que os Sonic Youth têm na banda, que infelizmente não chega para lhes conferir relevância num contexto mais alargado que o circuito alemão. Em jeito de rescaldo, os Ms. John Soda revelaram-se uma formação algo derivativa, sendo que Kubin, mesmo interpretando versões alheias, conseguiu ultrapassá-los pela originalidade. Espera-se que a originalidade volte a servir futuramente de fio condutor a novos eventos musicais temáticos como este.

· 21 Set 2007 · 08:00 ·
Eugénia Azevedo
eugeniaazevedo@bodyspace.net
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