Camané
Circulo de Bellas Artes, Madrid
04 Nov 2006
No seguimento do intercambio cultural entre Portugal e Espanha, a IV Mostra Portuguesa em Madrid, certame que decorre entre 24 de Outubro e 7 de Novembro, acolhe uma vez mais as áreas da Música, Literatura, Cinema, Artes Plásticas e Gastronomia e, pela primeira vez este ano, o Teatro e Ciência. Ao todo eram/foram/são cinco as propostas musicais do festival, destacando-se os nomes de Madredeus, Clã e Camané. Este último actuou na Sala de Colunas do fabuloso edifício do Circulo de Bellas Artes em representação do fado, mas também como resposta ao cenário quase exclusivamente feminino dos fadistas que visitam a Espanha ano após ano. Isto pelo menos foi a informação soltada minutos antes do início do concerto nas colunas da sala pelo responsável da apresentação de Camané.

A sala estava visivelmente e incontrolavelmente cheia. Havia quem procurasse cadeiras em qualquer lado para se sentar, ou quem tentasse desencantar o local que garantisse a melhor visão para o palco. Estavam todos ali para ver o fadista que nasceu para o fado acidentalmente depois de adoecer e durante esse tempo se dedicar aos discos de fado da sua família. Com a edição do álbum ao vivo Como sempre...Como Dantes e, mais recentemente, o DVD Ao vivo no S. Luíz, Camané parec estar mais do que nunca virado para os palcos. Em Madrid apresentou-se com José Manuel Neto na guitarra portuguesa, Carlos Manuel Proença na Guitarra e Paulo Paz no contrabaixo.

Camané fala de Lisboa, de amor e de saudade. Obviamente as suas palavras abordam outros assuntos, outras personagens, criam outras paisagens, mas os referidos são talvez os três que aborda com mais frequência. Por vezes chega a interliga-los e aí parecem apenas um. Camané aborda o fado da forma de alguém que cresceu com ele, aprendeu com ele, da forma de quem viu o mundo ‘filtrado’ pelo fado. Mas as suas visões próprias e pessoais não o impedem de passar por aquele que é com certeza um dos seus heróis do fado: Alfredo Marceneiro.

Já no encore, os sinais da presença de portugueses aumentaram significativamente: os gritos de “És o maior Camané†e o típico “Ah, fadista†foram como um selo luso na noite de Madrid. Foi da mesma plateia que saiu um pedido especial. Uma canção, “Senhora do Livramentoâ€. Pedido aceite e concretizado: “Infernos, prantos, amores / A castigar tanto norte / Porque é que partiste um dia / Sofrendo a minha agonia / E não me roubaste a morteâ€. O fado continua a ultrapassar fronteiras e com sucesso.
· 04 Nov 2006 · 08:00 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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