À luz do interesse crescente que nele culmina, Copia é a confirmação de uma suspeita que foi sendo adiada durante os últimos quatro anos e igual número de lançamentos: Matthew Cooper, o ser acanhado que se expõe como Eluvium, corresponde a caso sério no que se refere a compositores de corpo inteiro promovidos à facção indie. Pessoalmente, posso acrescentar – arriscando a gabarolice – que Copia serve como certificação de que eram palpites acertados os dois artigos anteriormente dedicados por aqui ao prodÃgio que até à feitura de An Accidental Memory in the Case of Death não tocara num piano durante quinze anos e conhecia apenas uma peça de Bach. Era, todavia, fatal constatar que, por entre drones pertencentes a auroras românticas, existia de facto um autor na eminência de revelar o experimentalismo como via propÃcia ao alcançar da forma clássica.
Sem semear uma ruptura que torne inidentificável a identidade de Eluvium, Copia assume-se declaradamente como o trabalho de quem confia que pode prescindir dos instrumentos rock em prol de outros mais clássicos, sem deixar de reproduzir momentos igualmente adequados à meditação (desobstruÃdos de camadas turvas por um estado muito mais lúcido e regular das harmonias sinfónicas). O que outrora chegou a ser explorado com o intuito especÃfico de servir ao reaproveitamento de ressonâncias para preenchimento de ambiências dominadas por melancolia, passa agora à condição invisÃvel (existirão guitarras em Copia?), disponibilizando um enorme espaço para aquilo que mantinha camuflado por menores indicies de ortodoxia o Eluvium dos discos anteriores – pequenas maravilhas cÃclicas que retardam a progressão instrumental conforme o timing perfeito para um sonho desperto. Essas maravilhas que, no conjunto, encontram suplemento na guarnição que oferecem as faixas cuja eficácia depende apenas das notas do piano (“Radio Ballet†pontifica essa divisão que simplesmente não conhece pontos baixos). As soluções não se ficam por aà e o opus “Ostinato†bem podia servir à modernização da Eucaristia Dominical que transmite a televisão do estado.
Frise-se a total falta de remorsos por parte de Eluvium na ambição que dedica a um Copia que se destaca pela magnificência que demonstra no impulsionamento, até à superfÃcie, da música que até aqui era apenas fundo coral e agora é barco fantasma que navega até parte incerta. A principal certeza a reter é de que, a este ritmo, Matthew Cooper pode bem estar ao nÃvel de um Michael Nyman ou Sakamoto por meados da próxima década.