É compreensĂvel que, a partir de meados da dĂ©cada de 90, Mac MacCaughan se tenha decidido por cultivar a mais solitária faceta Portastatic em paralelo Ă mantida na liderança dos herĂłis indie Superchunk – a segunda implicava um compromisso imenso para com os miĂşdos que ocupavam as filas dianteiras dos concertos da banda de Chapel Hill, alĂ©m de expectativas concretas semeadas por um mais “rasgado” maneio das guitarras em provocações juvenis como “Slack Motherfucker” ou “Fishing”. De certa forma, Mac MacGaughan via condicionada a sua evolução enquanto escritor de canções por ter oferecido bons momentos de rock out a um pĂşblico sedento de fuzz nos anos grunge. Nessa altura, MacCaughan sentia a pressĂŁo dos novos mecenas que se perfilavam no perĂodo de orfandade que se seguiu ao grunge.
Talvez por isso, alguma incompreensĂŁo nĂŁo deixou de assombrar discos francamente excepcionais como Come Pick Me Up e Here’s to Shutting Up - a cargo dos Superchunk - por incluĂrem um dinamismo a que nĂŁo será totalmente familiar o tĂpico fĂŁ da banda. Exigiam uma madura adaptação os arranjos de invejável primor, uma produção mais elaborada ou a lufada de ar fresco oferecida por Jim O’Rourke (que colaborou no primeiro dos Ăşltimos (?) discos da banda da Matador entretanto transferida para a Merge que o prĂłprio Mac administra). A opção Portastatic representa essencialmente a carta verde que merece alguĂ©m cuja versatilidade pop começou, aos poucos e conforme o avanço da idade, a eclipsar o fulgor rock dos verdes anos. AlĂ©m disso, Mac MacCaughan sĂł tem de prestar satisfações a si mesmo por quaisquer falhanços artĂsticos ou comercias.
É, de facto, um descanso ser-se patrĂŁo de si mesmo e despertar despreocupadamente com um sorriso que mais brilha quando verificado o rendimento que ofereceu nas Ăşltimas vinte quatro Funeral (e, agora, NĂ©on Bible) dos Arcade Fire – sim, Ă© um dado pouco relevante para o caso, mas Mac MacGaughan ocupa o mais alto cargo do patronato da coqueluche canadiana. TĂŁo optimistas como os tempos que se vivem na label Merge, sĂŁo as canções que dĂŁo forma a Be Still Please, simpático registo que revisita os temas mais queridos a Mac MacCaughan – rituais pessoais e utopias Ă pequena escala - assumindo as rĂ©deas do mesmo tratamento luxurioso da pop e melodias, cruzando equilibradamente as cumplicidades que podem desenvolver a grandiosidade cinemática (lá estĂŁo os violinos) e o intimismo (lá está a guitarra acĂşstica), sendo “Like a Pearl” evidĂŞncia absoluta desse sentido harmonioso. Nas situações em que o optimismo se torna mais nublado, Be Still Please revolve a abordagens filosĂłficas das relações humanas, ou, pelo menos, tanto quanto permite o repouso oferecido por umas fĂ©rias em paradisĂaco local incerto.
Liricamente, Mac MacCaughan retoma à confessionalidade simplificada e cristalina que o tornou guia espiritual de Matthew Pryor (The New Amsterdams) ou Chris Carrabba (Dashboard Confessional), que conduziram essa doação até um plano ainda mais sentimental. Quando, na limpidamente country “Getting Saved”, refere que Now I have filthy thoughts about you, I hope you have the same for me when I’m gone, quase parece essa frase servir de sequela mais adulta a uma muito mais desenvergonhada “Phone Sex” dos Superchunk
A falta de pudor, em Be Still Please, verifica-se muito mais Ă falta de filtros que atĂ© aqui podiam impedir a pop de ser projectada como um palácio habitável – como se todos os discos antecedentes a este, no currĂculo de Mac MacCaughan, fossem apenas esboços da ambição que podia potenciar a sua mais eficaz arma. Sem deixar de acusar a quebra de ritmo imposta por um par de derrapes (a country de chamadas de longa distância nĂŁo Ă© o forte de quem chefia a Merge), nĂŁo deve Be Still Please deixar de ser considerado como companhia perfeita para umas fĂ©rias quentes amenizadas pelo sopro do coração.