Marc Moulin não é um nome estranho e podemos mesmo concordar com os press releases e considerá-lo uma lenda viva. Músico, um dos responsáveis pelos Telex e os Aksak Maboul, jornalista, produtor, Moulin, de origem belga, é um dos homens mais influentes da música europeia. Responsável por uma discografia invejável, ideólogo da era Placebo, Moulin tem sido reconhecido pelas novas gerações como um erudito disposto a integrar - de mente aberta como sempre o fez - os elementos caracterizadores de cada conjuntura. Saiu da sombra em 2001 com Top Secret, um pouco à boleia da fórmula de St. Germain, perseguiu três anos depois, com Entertainment, um modelo próprio, reforçando a sua personalidade criativa, tendo finalmente acertado neste ano de 2007 no tom certo para música que à muito ansiava voltar a produzir.
I Am You é a amalgama sonora que Moulin já nos acostumou, onde se encaixam o jazz, o funk de outras eras - de ouro! - e o breakbeat funcional e eloquente. A programação abandona a fórmula vigente e exala a formalidade que pretende aconchegar as ideias de fusão de Miles Davis - um dos Ãdolos do belga - ou a proficiência de Jimmy Smith. I Am You não inventa a roda, muito menos perverte o status quo, mas faz nos reflectir sobre a capacidade de inventividade de um "velho do Restelo" que não abandona a memória nem rejeita a tecnologia, antes as incorpora na sua retórica. Um exemplo.