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Air Pocket Symphony

2007


Por vezes o óbvio não está diante de nós. Indagar é muitas vezes o segredo para a descoberta de pequenas pérolas. Talvez seja o que se passa em Pocket Symphony que à primeira vista poderá ser rotulado como a mais ténue expressão de Nicolas Godin e Jean-Benoît Dunckel ou o momento menos inspirado desde City Reading mas que na verdade possui todos o elementos para ser um bom disco. Talvez os fãs de Moon Safari tenham alguma dificuldade em entender os propósitos deste disco, mas a dupla francesa já deu, por varias vezes, provas de que a sua música tem obrigatoriamente de evoluir para novos patamares e soltar-se de velhos estigmas. E Pocket Symphony talvez seja esse momento mais expressivo: além de uma viagem pelo oriente em busca da rectidão de espírito, também poderá ser uma introspecção sobre a memória do grupo.

Ao quarto disco os Air criaram o disco menos consensual. Enquanto os saudosistas reclamam pelo charme etéreo de Moon Safari e os aventureiros aguardam por momentos mais experimentais – à imagem de 10.000 Hz Legend –, os franceses mergulham na tranquilidade do mar do Japão. A desilusão para muitos poderá ser imediata, mas para quem não esteja disposto a abdicar da pop celestial, algo ingénua mas extremamente perfumada deverá insistir até encontrar os encantos que, no fim de alguma insistência, acabam por tornar-se óbvios. Os instrumentais partem onde Talkie Walkie parou: "Alone In Kyoto" é o mote para todo o disco. Os momentos mais orelhudos revelam-nos o equilíbrio e a eloquência adquirida com a experiência dos anos, enquanto os mais introspectivos suspendem o tempo no espaço e anestesiam o mundo com quietação.

Em Pocket Symphony temos uns Air mais maduros, de carácter definido, sensíveis ao quotidiano e - entre uma alegria contida num dia de sol e a tristeza tocante num dia de chuva - dispostos a extravasarem-se emocionalmente sem nunca tocarem na excentricidade sentimental fútil. Pocket Symphony não será o melhor álbum de Godin e Dunkel mas também está longe de ser o pior. E apesar de "Space Maker" soar mais a um lado B de qualquer single de Talkie Walkie, este disco possui uma das melhores músicas de sempre dos Air: "Photograph". E enquanto os dois franceses já expressam vontade de fazer um disco mais ritmado, estas pequenas sinfonias de bolso espalham uma serenidade invejável num tempo em que a harmonia sonora mais sentimental é encarada com gracejo. Felizmente os Air – agora com olho no extremo oriente – continuam a convencer o mundo de que é possível fazer-se bonito sem resvalar para o ridículo.


Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
13/03/2007