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BARR Summary

2007
5RC


Para apresentações formais e contextualização acerca de BARR, aconselha-se a consulta de entrevista anexa Sumarizar por aí. Assim sendo, importa exclusivamente saber o que preparou Brendan Fowler para um segundo disco que procura sofridamente assimilar e encapsular um colapso sentimental descrito pelo próprio – em “The Song is the Single†- como uma ruptura de Armagedão (vivida nos meses que antecederam à gravação de um dos últimos lançamentos a conhecer o selo da cessante 5RC).

E não se estranhe se, a partir daqui, toda a descrição possível de Summary se assemelhar a uma divagação multi-referencial, pois assim também evolui um álbum que não se acanha de abordar os temas de modo concreto e carnal, sendo que a principal novidade – em relação ao seu antecessor Beyond Reinforced Jewel Case – assenta sobre o facto do registo vocal de Brendan se encontrar mais próximo do “cantar†que nunca. Tudo o resto acompanha esse progresso e surge por aqui num estado mais refinado: o acompanhamento musical próximo de jam intimista, a cadência verbal beat, um piano sonolento que recusa à via crescente de “Auto Rock†– ponto de partida de Mr. Beast dos Mogwai - e acompanha o Romeu desolado no regresso ao local do crime onde a harmonia passou a ser conflito.

À margem do aspecto dolentemente detalhado das palavras que revestem Summary, poder-se-ia também adjectivá-lo como iniciativa quase freak-chic. Freak por motivo da tempestiva digressão por assuntos repescados, tal como sugere o labirinto contra-natura de relações humanas que adquire dimensão na valsa confusa de “Was I? Are you?â€. Chic no que respeita ao corpo musical circunscrito a elegância minimalista (por vezes, apenas percussão esquelética e incomodativa). Ainda assim, sem tiques de arrogância ou elitismo, tal como se percebe a um completamente arrebatador e contagiante “The Song is the Single†que, muito à custa de um linha de baixo preciosamente Kim Deal e refrão em permanente mutação Beck (fase Mellow Gold), preenche requisitos que dela fazem um dos primeiros grandes singles do ano.

Além dessas estranhas qualidades, sobra a Summary todo um secundário fluxo de (auto-)referencialidade (e imenso valor curioso) que passa por apontamentos relativos às técnicas de marketing do próprio disco, mensagens telegráficas dirigidas a pessoas que Brendan refere pelo nome ou descrições facilmente descodificáveis de toda o processo desastroso que assumiram as relações levadas a enterrar nesta parada catártica. De certa forma, BARR é o Ferris Bueller que, no clássico juvenil O Rei dos Gazeteiros, transgride a distância imposta pelo cinema e se dirige directamente ao público. É inevitável a surpresa que assalta desprevenidamente quem não se encontrar preparado para servir de ombro amigo a um Brendan Fowler que se sobreexpõe ao longo de Summary.


Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
12/03/2007