O tĂtulo coloca o disco no tempo: Outubro. O subtĂtulo contextualiza-o na forma: Solo Guitar Playing. Manuel Mota volta a mostrar trabalho e fĂĄ-lo de uma forma curiosa: no dia 11 de Outubro de 2006 abordou a guitarra elĂ©ctrica, no dia 14 do mesmo mĂȘs investiu os seus intentos na acĂșstica. FĂȘ-lo sozinho, em casa e sem ajuda de quaisquer instrumentos adicionais, confiando no experimentalismo, na sua linguagem e estilo prĂłprios e aprofundados ao longo dos Ășltimos anos. O resultado, um disco duplo, surge na sua prĂłpria editora, a Headlights. Por força das circunstĂąncias, Outubro Ă© disco de duas faces.
Na primeira, o mĂșsico continua a sua exploração prĂłpria e complexa da guitarra elĂ©ctrica, (que se tornou a sua imagem de marca nos Ășltimos tempos), interiormente experimental e provocadora de reacçÔes distintas, de uma certa inquietação e em alguns momentos o deslumbramento. O silĂȘncio Ă© sabiamente gerido e nada parece surgir ao acaso â cada som parece encaixar em todo um discurso coerente. Tudo Ă© transparente, nada se esconde.
Na segunda parte, Manuel Mota transpĂ”e a tĂ©cnica para a guitarra acĂșstica deixando transparecer uma aparente relação mais fĂsica e visceral com o instrumento â aqui manifestam-se todos os movimentos, todos os actos reflexos, todo o desassossego. Tanto no primeiro como no segundo disco, raras sĂŁo as vezes em que a beleza Ă© oferecida em mĂŁos ou directamente; o trabalho de Manuel Mota, hoje e sempre, pressupĂ”e uma busca superior e ao mesmo tempo uma fruição menos instantĂąnea mas, em Ășltima instĂąncia, recompensadora. E Outubro nĂŁo Ă© indubitavelmente excepção.