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Mike Hansen At Every Point

2006
Etude


At Every Point desenrola-se ao longo de cinco peças todas elas com mais de 7 minutos e menos de 16. Ao todo, sĂŁo quase 53 minutos de exploraçÔes que Mike Hansen decidiu entregar Ă  Etude, uma editora criada em Barcelona em 2006 que se dedica Ă  mĂșsica experimental, Ă  improvisação, field recordings, mĂșsica minimal e aos sons obscuros em geral. O cenĂĄrio editorial pareceu agradar a Mike Hansek, improvisador electro-acĂșstico de Toronto que se tem vindo a envolver-se na cena improvisada canadiana hĂĄ mais de uma dĂ©cada. Para este lançamento em particular fez-se rodear essencialmente de percussĂŁo, uma guitarra elĂ©ctrica e dos sons e samples de gira-discos, o seu principal aliado musical de longa data.

O terreno preparado por Mike Hansen Ă© gĂ©lido e desumano mas igualmente fĂ©rtil. O desenvolvimento de “The day before the day” Ă© lento e cuidado e, por isso, rico em sensaçÔes. “Ridying up after” Ă© bastante mais sedutor e preenchido do que o tema anterior, acima de tudo pela presença constante da percussĂŁo, mas logo a seguir “The Alarm went off sooner than expected” marca o regresso a terrenos mais pausados e serenos. At Every Point Ă© por isso um disco de altos e baixos – quer em termos de mĂ©todo, quer em termos de interesse. O prĂłprio Mike Hansen descreve a sua tĂ©cnica como sendo a de um pintor construtivista, no sentido de fazer mĂșsica com os sons que tem Ă  mĂŁo e transformar esses sons em algo novo e imediato. E tambĂ©m cerebral e exigente.

Enquanto que “Once held a lighter high in the sky” explora o ruĂ­do como ainda nĂŁo tinha sido feito em At Every Point (em volumes e em intensidade), “An example of what I meant” introduz elementos de fantasia e quimera num disco bastante cru e autĂȘntico – se quiserem real. Introduz-lhe atĂ© uma certa espiritualidade que deixa ĂĄgua na boca e o desejo que Mike Hansen se aventure mais amiĂșde por este tipo de terrenos. “An example of what I meant” Ă© a Ășnica porção ligeiramente quente e quase humana de um terreno jĂĄ de si fĂ©rtil, fechando um disco em que, apesar de o mĂ©todo se sobrepor Ă  forma, Mike Hansen consegue momentos fervilhantes e merecedores de atenção.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
02/03/2007