Perante os factores que deram origem a Substation, podia-se até partir do princípio que esta seria mais uma daquelas colaborações que, aos 15 minutos de duração, acusam um penoso e imenso desgaste quase sempre agravado por um par de criadores dedicados a um delírio narcísico que invariavelmente resulta em vazio. Nada mais errado. Robin Fox e Clayton Thomas surgem como improvisadores reconhecidos no meio Australiano e a química por ambos obtida é de incalculável alcance – abrangendo com equivalente magnificência alguns monumentos abrasivos e outros que padecem de perscrutação atenta . Neste caso, o primeiro ocupou-se do processamento ao vivo dos sons que produz o segundo a partir de um imaginativo e uso atribuído a um contra-baixo (a que ajuda a experiência do mesmo em jazz) e objectos vários.
Uma insuspeita avalanche espreita a cada instante. Em “Shuffle”, os sons incisivos que produz o contra-baixo - visceralmente abusado - degladiam-se em cacofonia crescente e, a meio-caminho da ascensão, esbarram num groove tentacular de aspecto alienígena que é coisa de deixar o cérebro em ebulição. O groove possível quando a manipulação de Robin Fox é impiedosamente desconstrutivista e incapaz de satisfazer a mínima necessidade de ortodoxia. "Shuffle", tal como outros movimentos em Substation, move-se por estilhaços de suspense Bernard Herrmann. Suspense esse que ganha um uso impróprio em “Dust on the Diodes” ao manter de pernas para o ar, durante quase 28 minutos, uma centopeia de sons perfurantes que produz o contra-baixo. Entende-se que o imponente "Dust on the Diodes" queira arrastar alguma sanidade com os detritos que verte para um ralo sem fundo, mas também parece que podia cumprir a sua missão em metade do tempo que perde. Nem todos os dias se sacrificará meia-hora a um exercício deste calibre. Contudo e porque em contra-ponto a esse “bicho” tem um “Between Downpours” magneticamente lower-case, este será, muito provavelmente, o mais triunfante dos três lançamentos aqui expostos.