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Dominique A. L’Horizon

2006
OlympicDisc


HĂĄ que ter cuidado com a displicĂȘncia com que Ă© encarada a mĂșsica francesa. À parte fenĂłmenos como os Air ou Yann Tiersen que almejaram garantir entre nĂłs a sua quota de respeito e simpatia, a tendĂȘncia de menosprezar a “chanson française” pela desconfiança bacoca de que jĂĄ nĂŁo surpreende nem traz nada de novo, tem de acabar o quanto antes. NĂŁo Ă© altura de virarmos insistentemente as costas Ă s produçÔes do hexĂĄgono gaulĂȘs, sob pena de passarmos ao lado de discos de sĂłlido potencial. TĂȘm-se assumido exemplos ilustrativos desse baĂș recheado as criaçÔes de, entre outros, Françoiz Breut, Benjamin Biolay ou Dominique AnĂ©. Chegados a este Ășltimo, devemos com alguma vergonha constatar que o espĂłlio deste compositor tem-se mantido largamente negligenciado entre nĂłs, apesar de L’Horizoni, que agora conhecemos, ser jĂĄ o seu sĂ©timo registo de originais. Vejamos de que se trata. Ao longo das onze faixas o toque assume sempre contornos minimalistas, marca que o intĂ©rprete francĂȘs ousou abandonar em registos anteriores e que agora recupera. NĂŁo se entenda por minimalista, despojado de arranjos ou acrescentos instrumentais variados. O que descobrimos aqui Ă© o recurso a paisagens sonoras lo-fi que engrandecem este registo sem o sobrecarregar de apontamentos inĂșteis. É o caso do piano, irresistĂ­vel em “Antaimoro” ou “Adieu, Alma”. De igual forma, e sem darmos por isso, deixĂĄmo-nos levar por clarinetes, trombones, percussĂ”es divinas disfarçadas de “minimalismo”, cada vez mais um conceito itinerante na sua ambivalĂȘncia. De resto, Ă© um daqueles casos em que o conforto na audição cresce gradualmente escuta apĂłs escuta, resultando fatalmente no vĂ­cio. Perdido que estĂĄ para a França o campeonato que arrastou massas neste VerĂŁo, quem diz que a França nĂŁo estĂĄ apta a vencer noutros campeonatos?


Eugénia Azevedo
eugeniaazevedo@bodyspace.net
02/09/2006