HĂĄ que ter cuidado com a displicĂȘncia com que Ă© encarada a mĂșsica francesa. Ă parte fenĂłmenos como os Air ou Yann Tiersen que almejaram garantir entre nĂłs a sua quota de respeito e simpatia, a tendĂȘncia de menosprezar a âchanson françaiseâ pela desconfiança bacoca de que jĂĄ nĂŁo surpreende nem traz nada de novo, tem de acabar o quanto antes. NĂŁo Ă© altura de virarmos insistentemente as costas Ă s produçÔes do hexĂĄgono gaulĂȘs, sob pena de passarmos ao lado de discos de sĂłlido potencial. TĂȘm-se assumido exemplos ilustrativos desse baĂș recheado as criaçÔes de, entre outros, Françoiz Breut, Benjamin Biolay ou Dominique AnĂ©. Chegados a este Ășltimo, devemos com alguma vergonha constatar que o espĂłlio deste compositor tem-se mantido largamente negligenciado entre nĂłs, apesar de LâHorizoni, que agora conhecemos, ser jĂĄ o seu sĂ©timo registo de originais. Vejamos de que se trata. Ao longo das onze faixas o toque assume sempre contornos minimalistas, marca que o intĂ©rprete francĂȘs ousou abandonar em registos anteriores e que agora recupera. NĂŁo se entenda por minimalista, despojado de arranjos ou acrescentos instrumentais variados. O que descobrimos aqui Ă© o recurso a paisagens sonoras lo-fi que engrandecem este registo sem o sobrecarregar de apontamentos inĂșteis. Ă o caso do piano, irresistĂvel em âAntaimoroâ ou âAdieu, Almaâ. De igual forma, e sem darmos por isso, deixĂĄmo-nos levar por clarinetes, trombones, percussĂ”es divinas disfarçadas de âminimalismoâ, cada vez mais um conceito itinerante na sua ambivalĂȘncia. De resto, Ă© um daqueles casos em que o conforto na audição cresce gradualmente escuta apĂłs escuta, resultando fatalmente no vĂcio. Perdido que estĂĄ para a França o campeonato que arrastou massas neste VerĂŁo, quem diz que a França nĂŁo estĂĄ apta a vencer noutros campeonatos?