Chega a atingir pontos absurdos a atracção dos espanhĂłis por objectos musicais evidentemente genĂ©ricos. No palheiro que tantas vezes sĂŁo as rádios castelhanas, a marca reconhecĂvel de alguĂ©m Ă© quase sempre a agulha que se procura. Em que outro paĂs Los Planetas seriam merecedores das honras que, por compromisso, se prestam aos Mogwai? A madrilena Acuarela goza de considerável prestĂgio entre o meio indie ibĂ©rico e muito tem feito por atrair atĂ© esta ponta talentos que importa manter por perto (vide Destroyer ou Xiu Xiu). Na verdade, a Acuarela atĂ© dispõe de alguma margem de erro. Pena que tal porção seja totalmente ocupada pelo descalabro cometido por Refree neste insĂpido e banal La Matrona. Em intimidade, Refree responde por RaĂĽl Fernandez e conhece os favores instrumentais de uma fatia considerável do jazz da Catalunha – onde se encontra sedeado o mentor do projecto que opta por cantar na lĂngua prĂłpria da provĂncia do nordeste espanhol . Em disco, RaĂĽl Fernandes desespera por colocar de pĂ© um qualquer manifesto de escritor de canções Ă procura de beleza interior – o disco perde-se em mil clichĂ©s que incidem em momentos ternos em que alguĂ©m revelou o seu encanto. Uma chatice. Existe piano a rodos, instrumentos suficientes para compor uma orquestra, a sensação de estarmos perante uma versĂŁo assexuada de Aimee Mann condenada Ă banalidade. Durante “BatĂs”, o compositor ilude-se de que se encontra acompanhado ao piano por Brad Mehldau, mas desconfia-se que o mesmo estivesse ocupado em obter arranjos para versões de Radiohead.- “BatĂs” Ă© coisa para fazer as delĂcias de yuppies em plena crise de identidade. Quando Ă derradeira faixa “L’ Herència” se escuta algumas palavras em inglĂŞs, instala-se a sensação de se ter aterrado no paraĂso. Exacto, atĂ© porque o tortuoso La Matrona termina logo de seguida.