Frise-se de antemĂŁo a perspicácia dos 31Knots na selecção de brilhantes colaboradores-chave para a produção e engenharia dos seus discos. NinguĂ©m sai perder ao associar-se criativamente aos Deerhoof, uma das mais desenvencilhadas instituições musicais no activo, e os efeitos milagrosos de tal aliança sentem-se transparentemente a uns 31Knots que, desde 2005, contam com a bateria de um Jay Pellicci que – precisamente e preciosamente - esteve presente, enquanto engenheiro de som, nas sessões que geraram os obrigatĂłrios Reveille, Apple O’ e Milk Man. Deduz-se a partir daĂ que a mestria de Greg Saunier no âmbito da engenharia de som tenha facilitado uma iluminação mĂştua e podemos apenas antever os resultados fabulosos que podem estar reservados para um prĂłximo disco de 31Knots, The Days and Nights of Everything Anywhere, que o prĂłprio baterista dos Deerhoof misturou. Contudo, a hora reclama por um terceiro e imaginativamente farto Talk Like Blood, que, embora denuncie em demasiadas ocasiões a “pesca” de um single de potencial radiofĂłnico, vale surpreendentemente por um produção de calibre superior e pelo volume positivamente absurdo de mĂ©todos invulgares aplicados Ă forma de um rock, cuja essĂŞncia sanguĂnea Ă© a Ăşnica componente a resistir a todas as transformações.
E assim que a mutação exige sacrifĂcios, o primeiro valor a evaporar-se Ă© a capacidade de contenção – a boĂ©mia que Brooklyn mantĂ©m sob moderada luz avermelhada passa a ser esventrada pela facção de Portland que a força a verter o sangue do tĂtulo. Sobra sofisticação a rodos, que serve tambĂ©m de pau para toda a obra. Nomeadamente, quando intervĂ©m num inebriado reggae citadino – “Hearsay” – em que a subterrânea batalha rĂtmica dispõe do momento certo para colocar em evidĂŞncia os seus executantes.
Esta soa a uma daquelas faixas que os Maroon 5 nunca se atreveriam a compor por força do perigo que constitui o seu final de guitarras em apoteose. Depois de, em escassos minutos, firmar os seus crĂ©ditos catchy, Talk Like Blood dispõem de tempo mais que suficiente para ir a todas e obter resultados surpreendentes em cada uma dessas investidas: seja na apropriação lisonjeira do mais sincero EMO da Saddle Creek em “Chain Reaction” (que conhece picos vocais na escala total do disco), narcisicamente debruçado sobre o umbigo da sua prĂłpria elegância samplada logo no inĂcio do intermĂ©dio “Interlude” ou generosamente balanceado para um power-rock que aproveita de forma improvável o piano febril em “Proxy and Dominion”. Por essas e por outras, perdoa-se atĂ© a sede de fama que demonstra Talk Like Blood. A quantidade e eficaz qualidade da pĂłlvora que armazena este terceiro álbum deixa a ideia de que será apenas uma questĂŁo de tempo atĂ© estes 31Knots desatarem a cumprir rodagens sucessivas nas frequĂŞncias hertzianas por esse mundo fora.