Empty Houses are Lonely é um álbum fácil de resumir: calmo, tranquilo, sem sobressaltos. Por vezes folk em estado puro, com vocalizações a fugir muitas vezes para o falsete (pensaram bem, Jeff Buckley) e constantes inflexões pouco ortodoxas, uma boa dose de fingerpicking e apenas um ou outro elemento “estranho” (leia-se adicional) a intrometer-se nas canções; em duas ocasiões, “Hurt to Try” (a mais eléctrica das canções) e “Dark Garage”, o registo é mais pop/rock, em regime de “banda completa” (voz, baixo, guitarra, bateria), naquilo que se pode considerar uma aproximação ao universo mais alt-country de, por exemplo, Micah P. Hinson.
Produzido quase na totalidade pelo mentor e protector Gregory Page, o álbum nĂŁo Ă© mais do que uma recolha de mĂşsicas antigas de Brosseau (algumas delas demos, mais dois temas que nunca haviam sido lançados oficialmente, “Bars” e “Hurt To Try”), maioritariamente do perĂodo compreendido entre 2001 e 2003 (anterior ao primeiro registo “mais a sĂ©rio”, What I Mean to Say Is Goodbye, de 2005). O disco acaba assim por ser representativo dos primeiros tempos do mĂşsico (natural do Dakota do Norte) em San Diego, na CalifĂłrnia, quando as mudanças de casa eram uma constante, incluindo a passagem por um hotel degradado. Há solidĂŁo derramada, um forte lado negro (ouça-se “Fragile Mind” ou “How To Grow A Woman From The Ground”) e referĂŞncias constantes a casas (o tĂtulo do álbum nĂŁo Ă© por acaso). Tom Brosseau fala de fragilidade, desencanto, desgostos, mas ainda assim consegue emanar paz de espĂrito. É sincero, por vezes atĂ© demasiado directo.
PossĂvel destaque maior do álbum: “Heart of Mine”, bela faixa agridoce, com a presença suave de um violoncelo e uma harmĂłnica a seguir rumos mais arriscados do que o habitual no registo folk. Já “The Broken Ukulele” e “Everybody Knows Empty Houses Are Lonely” possuem uma segunda voz, feminina (que resulta particularmente bem no primeiro caso). SĂŁo duas das mĂşsicas mais despidas e tambĂ©m o registo em que o Brosseau consegue brilhar mais: sendo mais delicado (e nem sendo isso particularmente original), parece vir ao de cima uma alma de songwriter que faz sentir que há ali algo de especial. Empty Houses are Lonely cheira a vinil, a analĂłgico, quase parece anacrĂłnico pensar no disco em formato digital. Nem por acaso, no tema-tĂtulo, há versos reveladores: “The billboard hasn't been changed in a while, used to be in color, now it's black and white”. Noutro momento, fica-se a saber que “everyone has a broken ukulele”. Tudo isto Ă© folk simpático, tudo isto Ă© folk profissional, tudo isto Ă© folk sentido.