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Toy Toy

2006
Smalltown Supersound


Não seja feita qualquer confusão entre os homónimos, apesar de ao arauto da canção popular portuguesa se conhecerem refrões prontinhos a serem entoados por crianças traquinas com menos de 8 anos ("Aguenta-te com esta / A culpa não foi minha, tu é que querias festa" é tão apetecivelmente primário quanto um tufo de algodão doce). Além de esclarecer por si só a intencionalidade lúdica do projecto a que serve de nome, Toy descreve o resultado de um feliz encontro numa loja de discos entre o inglês Alisdair Stirling e o norueguês Jorgen Traeen, ambos habituados à movida musical das cidades em que residem e aqui empenhados em aplicar uma sagaz sensibilidade catchy à emulação de temas para séries infantis imaginárias. Não foi ao acaso que atribuí a este um lugar junto de dois discos editados no Japão que cata a pop mundial a partir de Shibuya-Kei - Toy conta com a referencialidade cosmopolita própria do bairro de Tóquio que aprendeu a catalizar a sua devoção pela pop internacional para os discos de Pizzicato Five ou Fantastic Plastic Machine. Mesmo assim, por imposição da premissa a que se propõe, apresenta-se adaptado à variante de ser um disco que capta fórmulas pop clássicas e diamantinas (“Rabbit pushing Mower†soa a ABBA à mercê da vontade animada do lendário Vasco Granja) para limá-las até adquirirem um perfil cartoonesco. Além disso, atirar pérolas a um personagem tão simpático quanto Porky Pig não parece assim tão descabido. Imaginemos que era eliminada toda a heresia e características rock a Suspended Animation, disco que os Fantômas conceptualizaram em torno de Abril e dos desenhos de Yoshitomo Nara, e sobrava apenas o slapstick e alguma perversão. Uma versão Daft Punkiana desse – com a insuflação de eficácia que isso implica - não distaria muito deste Toy. Apesar de depender do tal pacto nostálgico que já foi mencionado, Toy exibe níveis de produção por si só capazes de “pescar†a atenção de ídolos pop que dependam o sucesso de um próximo hit para continuarem em jogo mediático. É quase cruel não ceder a um disco que termina com um crepúsculo pintado a cera e as notas musicais desavergonhadamente infantis no lugar dos sapatos de Fred Astaire. Toy representa um apontamento curioso a registar ao primeiro semestre de 2006.


Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
09/04/2006