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Windmill Puddle City Racing Lights

2007
Melodic


Dado cientifico quase comprovado: eliminada a nasalidade à equação, “The Blower’s Daughter†de Damien Rice, quando repetido na rádio ao ponto da saturação, vai assumindo crescentes semelhanças ao estéril falsete de “You’re Beautifulâ€, pelo qual é responsável a ameaça James Blunt. Talvez seja a repetição do refrão ou o efeito secundário provocado pela banalização de algo à partida especial (a ode fixada de Damien Rice, obviamente). Em todo o caso, acredita-se que a ausência de contacto visual com o caminhar lento Natalie Portman pode contribuir para o agravo desta associação.

Mas a tendência social declara, desde há muito, que alguém de aparência menos atractiva deve dedicar o dobro do empenho se quiser ver por bem empregues os seus dotes mais proveitosos. Algo me diz, portanto, que asseguradamente mais comprovado que o primeiro dado científico proposto é a certeza de que um James Blunt pronto para uma cerimónia de entrega de prémios não é muito mais agradável à vista do que um Robert Downey Jr. após essa mesma cerimónia. Os tempos, contudo, convidam a que vozes suspeitamente nasais e estridentes se aventurem pelo songwritting se referenciarem, nesse percurso, os mais respeitosos discos de David Bowie. Windmill, ou Matthew Dillon conforme a vontade da mãe que o trouxe ao mundo, é o último soldado-raso sujeito a enfrentar um terreno que já conhece o domínio dividido pelo Canadá e aquele insignificante país que lhe é vizinho.

Nessa infiltração, o britânico Windmill actua na condição de outsider e não dispõe, desta vez, da vantagem de ter consigo pólvora que tome a dianteira na batalha. Muito pelo contrário, acrescente-se, já que tudo o que por aqui vai já alvejou mais centralmente alvos vários: o andamento orquestral dos Arcade Fire, o intimismo inflectido de cem escritores de canções acanhados ou o uso de pivô atribuído a um piano sofrido (o refrão apoteótico de “Tokyo Moon†serve, nem que seja, como ponto referencial onde tudo isso se concentra). Ganham forma canções dispostas como navios estáticos, cujas velas não sopra o vento que deveria provir da capacidade de Matthew Dillon em tornar marcantes as matérias orquestrais à sua mercê.

Mas não pode estar ao nível de Danielson (Daniel Smith) quem, numa manhã de 2005, acorda com essa vontade e falta bênção divinal que salve os lamentos cristais - escutados ao fraquíssimo debute - do estatelamento no solo da pretensão e inconsequência. Puddle City Racing Lights é um eunuco Ogre de Tróia que nem pela calada surpreende o ouvido desprevenido.


Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
15/02/2007