Antes de sequer revelar sons humanamente audÃveis, Current toma o tempo de que necessitariam os Anal Cunt para formar um EP de porte épico – ou seja, abre com minuto e meio de near silence que só muito gradualmente vai conhecendo a aurora de minimalismos dispostos como partÃculas e outros fluxos de som ininterrupto, que mais não são do que marcas de autor associáveis ao trabalho de um Richard Chartier predominantemente provocador e incorruptÃvel na recusa de facilitar os seus mecanismos (perseverança essa que lhe terá valido a comunhão criativa com William Basinski e Taylor Deupree). A verdade é que o vácuo que se escuta aos mencionados noventa segundos não existirá, contudo, em vão. A partir de uma segunda escuta torna-se legitimo entender esse perÃodo inicial como o tempo mÃnimo de que necessita o corpo humano na adaptação à pressão atmosférica – até porque, segundo consta, “Current†debruça-se tematicamente sobre a abstracção que desenvolve um passageiro de avião em relação à noção de espaço e tempo e à s correntes de ar que lhe são superiores e à s correntes oceânicas inferiores. De certo modo, “Current†evolui como um delicado exercÃcio zen que, por via da progressividade compassada dos elementos etéreos que incorpora, garante a absorção compacta dos conceitos aeronáuticos a que se compromete. Mesmo que a sua discrição obrigue a uma auscultação atenta em isolamento absoluto.