m. rösner. Assim, tal como se encontra escrito - com as minúsculas em vez das maiúsculas, com o m. no lugar do Matt que tem como nome. Essencialmente, como permuta simbólica do desimpedimento e faculdades de desobstrução que o artista sonoro australiano procura para a sua música. Ou será que o conteúdo do primeiro Alluvial se pode adjectivar como musical? Certamente, ou tanto quanto permite a deriva onde convergem, em fluxo dialogante, as matrizes principais e mais identificáveis aos ditos artistas sonoros: palete de substâncias orgânicas e instrumento supervisor de manipulação digital (neste caso, o fiel laptop). Relativamente ao ordenamento meteorológico que as componentes conheciam nesse primeiro disco, à medida que o tempo passa vagarosa, Morning Tones é quase uma prequela – sem os facilitismos de George Lucas, mas como veÃculo que reflecte sobre si os tons de um sol nascente (a Austrália conhece-o antes do Japão que o afama patrioticamente).
Contudo, o produto do engenho articulado pelo australiano era, desde sempre, mais propÃcio a escutas matinais ou nocturnas – ambivalente a absorção atenta, tal como ao preenchimento de ouvidos prestes a repousar. Para justificar a distinção face ao granel electro-acústico à partida balanceado para apoderar-se do seu nome, m. rösner vale-se, em Morning Tones, de um argumento que engloba em valiosa premissa todo o disco: qual o limite de distância a manter perante a melodia para um disco nunca revelar contornos de storytelling mais tendenciosos? Incide exactamente na estruturação desse limbo a ambição de Morning Tones. O exercÃcio “Morning Tones†pode até evidenciar uma sonolência Khonnor (aguarda-se ansiosamente o regresso), mas acrescenta-lhe um núcleo convulso mais abstracto e cerebral. Aparentam a sugestão de algum horror os ressonantes metais de “Dissolve†– associáveis à banda sonora de Massacre no Texas -, porém, podem também esses assumir um sentido agradavelmente poético. E nessa rica ambiguidade vai progredindo Morning Tones.
Um julgamento precipitado poderá, ainda assim, acusar de aleatória a amálgama que rösner amassa a partir de instrumentos mais freak (um acordeão, guitarra acústica e violino), mas Morning Tones não ambiciona esfumaçar-se como um gambuzino numa poeira de interrogação – antes cede a amigável repetição circular de mantras que, conforme compactam as suas pontas soltas, acrescentam relevo ao estereograma que proporcionam. Abstracções que reclamam por uma descodificação compassada por um ritmo cardÃaco. Ou seja, rösner articula materiais brutos (por vezes, crispantes), gere coadjuvantes doses de melodia e subjectividade e convida a que o sonho preencha as restantes lacunas. Tudo isso enquanto a aurora esfrega os olhos com gotas de orvalho.