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Owusu & Hannibal Living With... Owusu & Hannibal

2006
Ubiquity


Será caso para dizer que da confusão também nasce a ordem. O desmazelo e desordem sugerido pelas imagens da capa pode indicar um ambiente caótico propício à criação e onde o estímulo musical se sobrepõe ao conservantismo de uma casa arrumada. Mas se da desordem nasce um sentido renque e lúdico capaz de mover parte do mundo também será presunção assumir que daí resulte a ordem interior em vez da exterior. Será o caso desta dupla dinamarquesa ao preferir uma música composta de especulações soul/pop em torno da verdade que apenas poderá ser gerada por gente consciente da sua própria realidade - independentemente da possível falta de correnteza que nos envolve o quotidiano. Talvez isso explique uma capa que, longe da beleza da maioria dos temas, coloca os intervenientes num cenário exterior falso e desmazelado, obrigando o ouvinte a descobrir as pequenas maravilhas do interior.

Não se trata de nenhuma verdadeira novidade. Nem daqui resultará a erecção de novos paradigmas. Mas uma vez mais a resolução determinada da produção, a observação atenta da actualidade e a análise criteriosa do passado poderão ser factores capazes de gerar beleza espontânea. E se de um Michael Jackson ou Shuggie Otis ainda é possível extrair a sabedoria que outrora iluminou mentes em busca da perfeição estética, com alguns exemplos actuais também é possível adquirir conhecimentos suficientes para construção de um som em busca da modernidade. Ou seja, por aqui não só pairam as almas inspiradas de Jacko – talvez em busca da redenção –, de um Shuggie ou de Steve Wonder, como também co-habitam vozes que nos fascinam o presente como Joseph Malik ou Steve Spacek.

Terminadas as escutas concluímos que os momentos partilhados com Philip Owusu e Robin Hannibal não terão motivos de exagerado entusiasmo. No entanto a forma como dois mundos acabam por se cruzar e reverenciarem-se torna a escuta não tanto numa busca de novas fronteiras - para uma soul em terrenos pop - mas sim um muito agradável momento onde o coração, sério ou embuido em cepticismo amoroso, conduz a operação para além da razão. Só assim a própria audição acaba por fazer o sentido merecido. Porque se abdicarmos da emoção e o lado analítico prevalecer, haverá momentos em que o curto espaço que por vezes separa a soul e o r&b de um exotismo pop duvidoso poderia deitar tudo a perder. Sendo assim será perfectível recordarmos a falsa imagem desleixada que envolve os protagonistas e imaginar a ordem interior que, curiosa com alguma espiritualidade, espera encontrar a luz que caminhe a razão para um novo nível. E enquanto não se inventar nada de substancialmente novo, teremos de nos satisfazer com esta perspectiva.


Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
24/01/2007