Existem personagens misteriosas. Personagens do sub-mundo que preferem as sombras da noite, a escuridão do desconhecido, que preferem movimentos discretos mas incisivos. Directos, criativos, enigmáticos. Burial perfere explorar o sentimento melancólico de uma cidade embebida na inexistência de esperança, num lado negro da alma sem resistência para vÃrus maléficos resultantes do stress. Mais empenhado na arquitectura 2step idealizada no inÃcio da década, a misteriosa personagem canaliza as poucas imagens de beleza da noite para um vórtice complexo, hipnótico e virtual. Sobrevoa as plantas da canalização do conhecimento urbano com a mesma facilidade que um bimotor sobrevoa uma cidade sem vento. Esforçando-se na mistificação do seu som, sensibiliza-nos para a possibilidade de um iminente apocalipse. Tudo o resto é singular, único, desusado. Os baixos são quase subsónicos, os ritmos residuais e arquitectados parecem esqueletos afilados e proporcionados. As harmonias dub alienÃgenas pintam um manto negro de mistério onde nos deixamos envolver com naturalidade. Burial é provavelmente o disco do ano. E isso é trabalho de génio louco.