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Low Christmas

1999
Kranky


Ah, o Natal, época do ano simultaneamente maldita e maravilhosa, coisa ambígua que amolece os corações mas convida ao recolhimento, aos deprimentes balanços de final de ano. O mesmo poderia ser dito, sem tirar nem pôr, acerca dos Low, outrora um quarteto, hoje um trio de Duluth, Minnesota, especialistas na arte da tristeza enquanto fonte de beleza.

Em 1999, pouco depois de Secret Name, os Low lançaram Christmas, disco dedicado totalmente à quadra concebido como prenda para os fãs. Os seus oito temas dividem-se entre versões de canções tradicionais da época ("Silent night", "The little drummer boy") e originais que deveriam ser elevadas à categoria das primeiras - os clientes dos centros comerciais agradeceriam a renovação nas playlists.

No capítulo dos originais, "Just like Christmas" são os Low a piscar o olho à pop dos anos 60. Há sininhos, baixo saltitante e produção maximalista à Phil Spector, elementos que chocavam com o que o que os Low tinham feito para trás (hoje, depois de The Great Destroyer, já não surpreenderiam). Em "Long way around the sea", entramos em território mais familiar à banda: há um órgão mortiço ao fundo, guitarra acústica lentíssima e as vozes de Alan Sparhawk e Mimi Parker unidas no refrão, a esvaírem-se rumo a coisa nenhuma.

Já entre os standards, "The little drummer boy" inunda de delay os clássicos "pa rum pum pum pum". Um drone de órgão e uma guitarra extática contribuem para a solenidade hipnótica que caracteriza os momentos religiosos. Uma "Silent night" acústica fica-se pela reverência ao original - e fica-se muito bem.

Como os outros discos dos Low (todos eles óptimos), Christmas conforta e inquieta, aquece e arrefece o coração sem pré-avisos - não há cedências aqui à alegria simples. Não é um disco para um Natal seguro, mas capta melhor a essência da época e as suas contradições do que a maioria dos discos do género.


Pedro Rios
pedrosantosrios@gmail.com
24/12/2006