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Max Richter Songs From Before

2006
Fat Cat / Flur


130701 é o nome que a britânica Fat Cat encontrou para uma espécie de filial onde enfia música dada a investidas instrumentais e orquestradas. Depois da edição de nomes como Set Fire To Flames, Sylvain Chauveau e o próprio Max Richter, Songs From Before torna-se no segundo disco do músico nascido na Alemanha (mas a viver no Reino Unido) em territórios da 130701. O primeiro disco de Max Richter na editora foi The Blue Notebooks, encontro perfeito entre a música clássica e a electrónica (uma fusão que o próprio apelidou de post-classical). Mas The Blue Notebooks não foi o primeiro disco de Max Richter: Memoryhouse, editado em 2003, com a BBC Philharmonic Orchestra, teve edição do selo de música clássica da BBC, a Late Junction.

Songs From Before porque é um disco sobre memórias perdidas e histórias do passado. E por isso não é de todo estranho que mais uma vez as composições de Max Richter exibem uma qualidade cinemática assinalável. Há algo de extremamente visual no cruzamento das cordas com as texturas de tons escuros e as field recordings; há algo de riquíssimo nos tecidos que entrelaça, a forma como dispõe os elementos; há algo de quase comovedor na forma como introduz o piano, o seu instrumento, no contexto do disco. Talvez tenham sido todas estas qualidades que lhe trouxeram a oportunidade de produzir e tomar igualmente papel nos arranjos no segundo disco de Vashti Bunyan, Lookaftering.

A capa do disco é capaz de dizer alguma coisa acerca do que se passa aqui. As suas cores, o preto e o branco. Também o é o facto de em tempos Max Richter ter feito parte de um colectivo intitulado Piano Circus que interpretava obras de Brian Eno, Steve Reich, Arvo Pärt, Glass, entre outros. E é talvez o minimalismo de Arvo Pärt que mais espaço ocupa em Songs From Before. Clichés à parte, na vasta palete de adjectivos que podem descrever Songs From Before entram com toda a certeza melancólico, simples e belo. São um trio inseparável de palavras que se ficam mesmo em cima da língua durante a audição de Songs From Before.

Se em The Blue Notebooks Tilda Swinton dava voz a excertos de Kafka, aqui é Robert Wyatt que narra passagens de Haruki Murakami. As palavras servem na perfeição como complemento imagético a territórios já de si tão ilustrativos. Ouvir Songs From Before serve na perfeição o intento de criar imagens e histórias construídas outrora e de torna-las reais. Um disco de pequenos (“Fragment†ou “From the Rue Vilinâ€) ou grandes ‘hinos’ (como “Sunlightâ€), de uma beleza que tem tanto de incontornável como de comovedora.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
22/12/2006