Carl Newman militou nos Zumpano e em mais alguns projectos já finitos de power pop. Tem um disco a solo, The Slow Wonder, que editado no ano passado e tem vindo a aperfeiçoar as canções e os refrões e os power-chords há já algum tempo. Há 4 anos, que ele e a crème de la crème da cena indie canadiana se dedicam aos New Pornographers. Twin Cinema não destoa dos outros dois discos, Mass Romantic e Electric Version, mas à s primeiras audições soa (erradamente) a desilusão. Mas logo que nos entram os riffs de guitarra, os sintetizadores, o jogo de vozes, os refrões e uma maior importância dada à bateria de Kurt Dahle, já não há maneira de saÃrem.
“Twin Cinemaâ€, a faixa de abertura, traz-nos dois ecrãs de cinema, lado a lado, “they’ve shown this on both screensâ€. A meio há outra melodia, outra parte da canção, não se seguindo à risca a estrutura verso-ponte-refrão-verso-ponte-ponte-refrão-refrão-refrão. Nota-se logo que há pormenores e melodias que é preciso encontrar e conhecer com calma. “The Bones of an Idol†é veÃculo para a voz de Neko Case brilhar, com dois pianos e coros “aaah-aaah†e “oooh-ooohâ€. Os “aaah-aaah†e os pianos voltam em “Use Itâ€, para batermos o pé, com um refrão que diz “they had to send the wrecking crew after meâ€. “The Bleeding of Heart Show†é balada como não conhecÃamos nos New Pornographers, só em Carl Newman a solo (sob o seu alter-ego AC Newman, que assina as canções neste novo disco dos NP), mas que cedo ganha alguma força e poder, já que as canções nunca se mantêm iguais. Também tem “oooh-ooohâ€, como qualquer canção pop à séria que se preze, mas acaba com uns “eeeh laaah-eeeh laaah†quase selváticos.
“Jackie, Dressed in Cobras†traz guitarras distorcidas e devaneios na bateria, e é uma composição de Dan Bejar, onde este menciona Nova Iorque e finalmente selvas. “The Jessica Numbers†é uma canção viciante, com uns primeiros dez segundos de bateria forte e guitarras, domados quando entra a voz de Carl Newman. Há guitarra acústica como em “These are the Fablesâ€, que começa como balada para Neko. No fim tem baixo, bateria e pianos, sem guitarra. “Sing me Spanish Techno†é a melhor canção do disco, com um riff viciante onde encaixa depois a frase “listening too long to one songâ€. Acaba por ser isso que queremos fazer quando ouvimos a canção pela primeira vez. Cantem-nos techno espanhol, por favor. “Broken Breadsâ€, de Dan Bejar, tem os “larara†que lhe conhecemos dos Destroyer e sintetizadores über-cool. “Streets of Fire†tem glockenspiel e melódica, igrejas a arder “sweet sweet fires in the streetâ€. Nem sequer nos importamos por a parte da melódica ser perigosamente parecida com a de “Here Comes the Nightâ€, do disco This Night de Destroyer, já que é a mesma pessoa, Dan Bejar, a escrever.
Techno espanhol e igrejas a arder não são propriamente as melhores maneiras de vender Twin Cinema, mas que certamente lá estão, estão. A forma como a escrita “artifical†de AC Newman se junta a outras vozes, a de Neko Case e Dan Bejar (que só assina três temas dos catorze que aqui encontramos) continua a ser óptima. E, mesmo continuando a fazer o mesmo que fazem desde Mass Romantic, os New Pornographers estão mais maduros e talvez melhores, podendo até ser que o sucesso meta-indie lhes chegue agora. Na primeira semana após o seu lançamento, Twin Cinema vendeu 22 mil cópias, e, apesar de ainda não aparecerem no Cribs da MTV ou na banda sonora de The O.C., pode não faltar muito para isso acontecer. E só será merecido.