A capa de Bring me the Workhorse antecipa quase totalmente aquilo que podemos encontrar no disco propriamente dito. Shara Worden, a mulher por detrás do epĂteto My Brightest Diamond, acaricia gentilmente um cavalo numa inquietante mistura de doçura com o selvagem. A sua histĂłria Ă© igualmente curiosa: neta de um devoto da Epiphone, e filha de um campeĂŁo nacional de acordeĂŁo e de uma organista de igreja. Mas nĂŁo fica por aqui. Cresceu entĂŁo a ouvir tango, gospel, mĂşsica clássica e jazz e aos trĂŞs já estava a gravar a sua primeira canção. TrĂŞs anos depois estava a estudar piano, a actuar em produções musicais da comunidade e a cantar no coro da igreja. E assim se explica, pelo menos, a sua voz: teatral, quase operática, com personalidade, forte.
Voltamos a pegar na sua vida para a deixar de novo em 2005, altura em que começa a trabalhar em dois discos. Um de canções acompanhadas por um quarteto de cordas (A Thousand Shark’s Teeth) e um disco rock (com Earl Harvin na bateria, Chris Bruce no baixo e, num dos temas, o seu pai, no acordeão) intitulado Bring me the Workhorse. A guitarra é assumida pela própria Shara Worden, a Gibson onde escreveu os temas que aqui se apresentam. Tantas experiências marcantes tinham necessariamente de resultar num disco de sensações fortes (seja lá o que isso for).
“Something of na End” Ă© ao mesmo tempo a melhor forma de começar Bring me the Workhorse e indubitavelmente o melhor tema que Shara Worden aqui consegue. Isso nĂŁo faz de Bring me the Workhorse um mau disco, mas sim de “Something of na End” uma canção com uma força incrĂvel, selvática e indomável. Algo parecido a uma força da natureza que nĂŁo pode ser controlada apesar dos esforços. Tendo em conta a força que daqui advĂ©m ninguĂ©m diria que esta canção Ă© sobre (ou baseada em) um telefonema. Na voz e nas guitarras, “Something of na End” lembra PJ Harvey. Em “Golden Star” o destaque terá de ir para as cordas e a percussĂŁo que acomodam a voz de Shara Worden e lhe permitem devaneios vocais.
“Gone Away”, no seu balanço entre a escuridĂŁo e a vida com alguma luz, faz lembrar Portishead (especialmente na voz, aqui sofrida e dolente), com o bĂłnus belĂssimo do acordeĂŁo; “Freak Out” Ă© um ataque descontrolado, quase punk, musicalmente falando. E por estas alturas já será por demais Ăłbvio que Bring me the Workhorse Ă© um disco maioritariamente negro, pesado. “Magic Rabbit”, mais para o fim, confirma-o e funciona como um bom resumo daquilo que se passa no disco: rock ferido com vozes distintas, cordas e encenações Ă©picas. Com ocasionais raios de luz.