Da editora espanhola Acuarela estamos habituados a pop/rock indie de nÃvel bastante satisfatório. Os Migala, principalmente por causa de Restos de Un Incendio, serão provavelmente a maior imagem de marca da editora do paÃs vizinho: indie rock frágil, melodias tristes e previsivelmente belas. Agora da Acuarela chega-nos um projecto diferente. Agora, com este último álbum L’Univers, os 12twelve esforçam-se por quebrar qualquer ideia de rótulo que tenhamos da editora. Se nos discos anteriores - Tears, Complaints and Spaces (2001), Doppler (split com os Ya Te Digo, 2002) e Speritismo (2003) - revelavam uma associação directa aos territórios daquela música nebulosa que foi classificada como pós-rock, à experimentação do krautrock e até ao psicadelismo, mostram-se agora abertos a formas muito próximas do jazz.
Mas qual será a importância dos tÃtulos, das tentativas de classificação, dos rótulos? São um modo fácil de enquadrar o músico (ou banda) dentro de um formato definido e universalmente compreendido, é certo. Mas na simplicidade dessa rotulagem perde-se uma infinidade de pormenores que só na escuta atenta são possÃveis captar. È particularmente penoso tentar enquadrar estes catalães num parâmetro unÃvoco, rÃgido, único. A música destes 12twelve é feita no limite, sobre as fronteiras, por vezes invadindo alguns territórios um pouco mais explicitamente, mas sem se deixarem ficar muito tempo num espaço facilmente catalogável.
É um estranho “Mr. Gesus†que abre o álbum. Os instrumentos vão entrando à vez: contrabaixo pesado, bateria acelerada, guitarra certinha e por fim o saxofone, que desenvolve a melodia. Os improvisos vão chegando, alternando com frequentes recorrências do grupo à melodia principal. É quase jazz, quase. Ao segundo tema o ritmo acelerado serve de base à divagação sónica que se vai aproximando do som dos Tortoise ou das bandas da cena de Chicago. Vamos a entrar na terceira faixa e ainda não sabemos bem como classificar esta música, portanto. O terceiro tema é um hÃbrido que concilia alguma regularidade da estrutura jazz com a explanação sónica da guitarra, representativo do modelo que orienta quase todo o álbum. Excepções à linha de ordem geral são a quarta faixa - momento de maior intensidade free - ou a sexta música, “La Modeloâ€, de uma quietude quase ambiental.
Relembrar a elasticidade estilÃstica dos Mandarin Movie de Rob Mazurek, Steve Swell e Alan Licht não é de todo descabido, se bem que esta proposta espanhola não se acerque a alguns nÃveis de brutalidade (o que mais se aproximará será o penúltimo tema, “Autobahn Polizeiâ€). Apesar das tentativas de rotulagem que se queiram fazer, este quarteto esquiva-se para o seu universo particular. Produzido pelo mÃtico Steve Albini, este disco esquiva-se a predefinições falaciosas, encaixotamentos fáceis ou descrições simplistas. Ainda não sabemos bem do que se trata, mas ficámos com a certeza que se trata de um objecto maior de jazz transfronteiriço de 2006.