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Osso Solto EP

2006
Merzbau


Vindos de Leiria, aterram no panorama musical nacional os Osso. De uma forma algo inesperada. Carlos Nascimento e Bruno Silva, membros do Stars Collective e dos Panda Suicide, parecem partilhar um gosto especial pelos Sunn 0))) (assim como pelos Wolf Eyes), algo bastante evidente quando se escuta os mais de 13 minutos de “A Calma Destrutiva da Infância”, a primeira e principal peça do EP com selo Merzbau. Aqui as atmosferas são pesadas e sombrias, o ruído expande-se sem direcção certa e as vozes juntam-se num cerimonial secreto. “A Calma Destrutiva da Infância” soa, em cada esquina, como uma exploração contínua, uma descoberta não pacifica, uma exaltação das inquietações, que tem no seu final a expulsão dos seus demónios.

O EP faz-se ainda de mais duas explorações, que embora distintas na sua abordagem fazem todo o sentido quando entendidas como um todo (do EP). “Estes Corredores Têm Saida” são o natural reciclar da energia e o reaproveitamento dos ruídos depositados em “A Calma Destrutiva da Infância”. As guitarras rugem e traçam um cenário metálico e desumano. A insistência nos mesmos padrões ruidosos é quase perturbadora, o que sublinha em tudo a carga aflitiva e as ambiências catastrofistas de Solto.

A fechar, “É esta a Cidade do Mel e da Violência” faz o seu caminho através da utilização de partículas electrónicas e da exploração de mais uma celebração ritualista que se constrói de batidas secas e quase-tribais e de vozes arrancadas à violência. Mas há mais a acontecer em “É esta a Cidade do Mel e da Violência”: pequenos e minuciosos estalidos e crepitações, a contradição entre a melodia e a anti-melodia (bem demonstrada pelo esclarecedor titulo da peça), a quase resignação que se parece notar. “É esta a Cidade do Mel e da Violência” foge ao resto da viagem pela sua forma mas não pela sua intenção ou atitude.

No seu todo, o EP Solto é uma amostra interessante das capacidades exploratórias (assim como a fertilidade do terreno) e da premência dos Osso, que abre ao mesmo tempo questões e esperanças para um trabalho, digamos, completo e mais exaustivo. Os quase 25 minutos deste EP mostram apenas o esqueleto de uma escavação que se imagina longa. Tendo em conta as infinitas possibilidades do lançamento em CD-Rs e em netlabels, o próximo capítulo desta pesquisa pode estar já aí ao virar da esquina.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
25/10/2006