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Zero 7 Simple Things

2001


Meados de 2001, os Zero 7 chegam-me às mãos como os “Air britânicos”. Fico entusiasmado, mas receoso. Que será que levará as pessoas a colocar esse rótulo? Serão eles uma “cópia” dos Air, ou por outro lado, têm apenas a mesma escola e aplicam as regras do estilo e das formas de forma semelhante aos franceses? Ouço o disco, gosto. Mas a realidade é esta: os Zero 7 estão pouquíssimo relacionados com os Air. Se é verdade que essas regras do estilo e das formas são em alguns momentos seguidas, é também notório que enquanto os Zero 7 fazem música com arranjos mais clássicos, com os Air já são mais os sintetizadores e meios electrónicos que predominam.

Henry Binns e Sam Hardaker, os dois nomes responsáveis por este projecto, começaram por ter um período de aprendizagem nos RAK Studios, onde lhes passou pela mão Robert Palmer, Pet Shop Boys, Young Disciplines e mesmo New Order. Foi ao fazerem um remix de “Climbing up the Walls” dos Radiohead que convenceram Gilles Peterson do seu talento. Este poderá ser considerado aquele momento em que as portas futuras se abrem. Foram depois convidados a remisturarem “Love Theme From Spartacus” de Tehrry Callier. O primeiro EP não havia de tardar e em 1999 lançam “EP1”, sendo hoje uma raridade já que foram feitas apenas 100 cópias. O segundo EP, “EP 2” surge pouco tempo antes do álbum de estreia “Simple Things”, em 2001.

Para este álbum de estreia Henry Binns e Sam Hardaker convidaram os vocalistas Mozez, Sia Furler e Sophie Barker, que parecem ter a voz adequada à canção que lhes foi dada, desembrulhando-se entre o passar dos temas com uma simplicidade e uma beleza apaixonante. As vozes sabem sempre a perfume acabado de colocar e a iguaria acabada de fazer. Mas não um perfume dos mais caros nem uma iguaria das mais raras. Não. Tudo muito simples, tudo muito belo. Claro que podia dizer que o toque de soul e trip-hop ajuda, que os arranjos clássicos dão um ar de música genuína, que quando a audição do álbum chega ao fim nos sentimos completamente relaxados. Podia dizer que os instrumentais são suficientemente bons para justificarem a não inclusão de voz (o que muitas vezes em muitos discos não acontece). Mas não. Fico-me pelo que disse. E já foi suficiente. Coisas simples, portanto (ou não fosse este o título do álbum).


Tiago Gonçalves
tgoncalves@bodyspace.net
05/10/2002