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Junior Boys So This Is Goodbye

2006
Domnino


E não pedíamos mais. Num ano parco em novidades, sem grande história para contar e, o pior de tudo, abundante em redundâncias, chega mais um disco que nos faz parar e pensar um pouco no estado da pop, mas essencialmente na satisfação que ainda consegue proporcionar. Há muito que a pop tem pouco para dizer à humanidade mas é bom saber que não está morta criativamente e que ocasionalmente ainda surpreende. A verdade é que a pop com tantas superficialidades procura evitar a introversão a todo o custo. Quase com medo de morte de expor-se nua perante um mundo que a quer ver sempre, resplandecente, vaidosa, cheia de adornos e enfeites desnecessários. Tudo é possível e tudo pode ser concebível e o que nos vale é que nem todos têm uma atitude de prolixidade perante a pop e ainda a tentam dignificar.

Será o caso desta dupla canadiana, Jeremy Greenspan e Matt Didemus, que depois de Last Exit e das experiências em torno de linguagens gélidas ligadas ao r&b, fazem-nos chegar um dos melhores exemplos de música pop neste ano de 2006. Em So This Is Goodbye há uma tristeza sedutora que nos encanta e uma luz que nos ilumina os sentidos. Há uma música despida de preconceitos, limpa e sensual. As melodias quentes, firmes e capazes de derreter a robustez enregelada dos ritmos, fazem nos esquecer que são geradas por máquinas e relembram-nos da possibilidade da simbiose suprema: o pulsar do verdadeiro coração humano no interior de máquinas.

So This Is Goodbye é a prova evidente que é possível viver sem os revivalismos ortodoxos de 80, de viver vida própria sem ser refém de maneirismos de outros tempos. Esta música subsiste com referências electro-pop indiscutíveis como OMD, Soft Cell, The Human League ou Depeche Mode, mas a necessidade dos Junior Boys em abrir novas portas e compreender o presente e o mundo que os rodeia, revela alguma sabedoria autodidacta na disposição cerimoniosa dos sons, na forma como gerem o tempo e o espaço e na capacidade de escrever e exprimir os sentimentos. E essa ideia com que ficamos depois de algumas escutas, reflecte uma qualidade na estrutura de pensamento – no que diz respeito à inteligência da composição – que viabiliza toda a operação para além da beleza imediata de todos os temas. E quando me refiro a beleza ponho de parte a ideia de leviandade a que estamos habituados a ver associado o substantivo. Sem espaço para excessos, aqui tudo é belo, sério e melancolicamente doce.

Em So This Is Goodbye paira uma estranha sensação onde tudo soa agradavelmente familiar, como se o tempo nos segredasse ao ouvido e nos dissesse que nada por aqui é novo. Mas no fim deparamo-nos com uma frescura arrebatadora que suprime vulgaridades e que nos embala a alma. É raro encontrar discos assim, onde excelência estética anda de mãos dadas com inteligência. Talvez por isso este segundo álbum, produzido com uma inesperada elegância, mereça a nossa confiança e respeito num ano triste e com poucas novidades pop dignas de registo. Muito bom.


Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
03/10/2006