A Nova Zelândia é, pela sua posição na Terra, dada a um certo isolamento que deixará, com certeza, as suas marcas. O nosso convidado de hoje nasceu lá. E apesar de residir actualmente em Londres, Peter Wright parece não ter esquecido aquilo que os seus olhos viram no paÃs onde nasceu. Mas Peter Wright não é nenhum novato nem nada que se pareça. Passou a ultima década a produzir discos de edição limitada de paisagens utilizando uma guitarra e, aparentemente, as suas memórias. Desolation Beauty Violence, primeiro editado em CD-R na Foxglove e depois em edição ‘normal’ pela Ikuisuus, surge como o terceiro disco propriamente dito do neozelandês, um disco onde se percebe instantaneamente que os dez anos que passou a explorar música (e a editar, essencialmente em CD-R) não foram em vão.
O que surpreende antes de mais nas composições paisagÃsticas de Peter Wright é o incomensurável controlo que estas possuem. Não há escapismos fáceis, nem faixas de segurança. A massa de som é fina mas continuamente suspensa, inquebrável. Atente-se a frieza e calma com que concebe “Above Lewis Passâ€, gélido panorama que escolhe uma variação para a repetir durante a maior parte da construção. Note-se como em “Adrift At 30,000 Ft†consegue reproduzir uma espécie de nevão lá bem no alto, com várias fases de diferentes de intensidade, mas com uma beleza controlada a todos os tempos. Pela minúcia dirÃamos que Peter Wright é um control freak. Um saudável control freak,
Atiram tudo para cima de Peter Wright. Ambient, pós-rock, free-folk, noise, drone. E na verdade, mais uns do que outros (a primeira e a última), todas as classificações parecem fazer sentido. A guitarra propositadamente desamparada de “Like Clockwork†parece querer levar Desolation Beauty Violence para outro caminho distinto por momentos, o que não acontece no próximo tema (“Kashmirâ€, mais um longo drone, com tonalidades distintas das dos dois primeiros temas), mas acaba por acontecer de certa forma em “Point Blankâ€, onde a guitarra acústica assume papel principal, com fundo sonoro propicio para tal.
Mas a mudança de ares dura pouco tempo e os últimos três temas voltam a recorrer ao drone e a ambiências etéreas. Na belÃssima “Leaving Town†os dois elementos (o drone a guitarra acústica), unem-se de uma forma quase inédita neste disco e o resultado é recompensador. Indutora de fantasia, “Leaving Town†é um tema que acaba por resumir as intenções de Peter Wright neste disco: a construção de paisagens sonhadoras com ajuda de field recordings e ocasionais presenças de uma guitarra. A escolha de um exemplar de 12 cordas é, como se pode escutar em Desolation Beauty Violence, uma escolha feliz. Como, aliás, quase todas aquelas feitas neste disco.