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Boozoo Bajou Juke Joint II

2006
k7!


É inegável um dos motivos porque os Boozoo Bajou vieram ao mundo: tentar colocar no centro de toda a acção o velho e místico delta do Mississipi. Enquanto hoje em dia muitos dos olhares ainda se voltam para a mãe Africa e da sua cultura ancestral extraem alguns dos mais importantes ensinamentos, a voz do velho rio, onde nasceu toda música afro-americana, é relegada para um plano secundário. Com alguma insistência os Boozoo Bajou nos têm recordado a importância do solo sagrado onde nasceu o jazz ou blues e com frequência homenageiam o chão arável onde a contemporaneidade musical começou a tomar forma.

Desde Satta que a dupla de Nuremberga não tem feito outra coisa senão tentar enquadrar diversas matrizes sonoras numa única equação. E apesar de ter corrido bem com à primeira (álbum de estreia e a primeira antologia), as vezes que se seguiram revelaram-se despropositadas ou pouco inspiradas. Aconteceu com Dust my Broom (2005), o segundo de originais, onde, com a excepção do elemento canção introduzido na equação, os fundamentos repetiam-se, e agora com Juke Joint II, onde Peter Heider e Florian Seyberth se precipitaram nas escolhas e os elementos somados não têm a força para fascinar com a mesma eloquência.

Juke Joint II é mais uma compilação onde os Boozoo Bajou reúnem algum dos temas que os tem estimulado nos tempos recentes. Enquanto que no primeiro tombo reconhecíamos algumas das inspirações para a música do duo, neste segundo tombo alargam a gama a outros géneros para além do dub, reggae, soul ou blues. Não que as novas escolhas deixem os cabelos em pé, mas as mãos que reuniram boa parte deste material deixaram de fora certamente o mais importante: a alma. Seria interessante que se aprofundassem as raízes elementares que constituem os gostos ou a escola da dupla em vez da mera exposição de temas por os quais se apaixonaram recentemente.

Não que o elemento mais pop ou o vulgar lounge sejam sempre dispensáveis, mas se a essência do primeiro Juke Joint, que remetia algum do seu fascínio para os clássicos intemporais, fosse levado mais a sério, ninguém seria forçado a admitir que algumas redundâncias aqui incluídas poderiam ter ficado na gaveta ou simplesmente terem sido expostas num qualquer set da dupla.


Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
21/09/2006