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The Hospitals The Island of Jocks and Jazz

2005
Load Records


O progresso sangrento da pátria ianque terá dependido, mesmo que parcialmente, da demência espontânea de lunáticos que ousaram contrariar ordens superiores. Consta de capítulos referentes à Guerra Civil Americana, que o ferreiro Paul Revere, na caminhada nocturna onde tinha como missão alertar os compatriotas para a vinda do Exército Britânico, terá desrespeitado o código de silêncio ordenado e, por iniciativa própria, desatado a fazer um chinfrim danado. Nunca chegou a ser eficazmente honrada a posição determinantemente ruidosa de Paul Revere. Teve direito a um memorial, a quatro linhas num poema e à sua imagem numa série limitada de notas. Pouco mais que isso.

A Load Records conta actualmente com uma invencível armada de Paul Reveres prontos a violar condutas protocolares. Podia até ser ele o guia espiritual destes Hospitals, dupla proveniente de São Francisco (que pouco conservará do espírito florido que celebrizou a cidade). O segundo I’ve Visited the Islands of Jocks and Jazz é digressão agro-masoquista por nenúfares de psicadelismo circunscrito à base nervosa, o discurso narcisista de uma lombriga habituada a nutrição noise, a banda sonora para os momentos que se seguiram ao que de mais trágico (ante)vimos em programas como Isto só Vídeo (enquadramento que pertence aos Hospitals, como a outras bandas que provocam abalos carentes de categorização exacta).

Será também espasmódica ameaça no-fi, que liberta bílis e muco – leia-se guitarras radioactivas e bateria martelada por alguém a recuperar de lobotomia - em partes iguais (e nada me impede de acreditar que o frenesim cacofónico de “Airplanes There” seja um dilúvio de seiva expurgada por Ents em período de cio). O shoegaze mutante que escutamos à Island of Jocks and Jazz é o mesmo que ecoa aos ouvidos dos Black Rebel Motorcycle Club quando acordam de um pesadelo imenso. Este é um caso clínico a acompanhar de perto.


Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
18/09/2006