Burt Bacharach. É este o nome que nos surge na mente assim que uma melodia de formas redondas, suaves e doces nos entra no ouvido de forma insistentemente apelativa. Apesar deste indivÃduo ser apenas responsável por uma curta parte da música popular criada no século XX, é o compositor americano que é referenciado quando se fala em precisão e sublimação pop. Como se houvesse música difÃcil de ouvir, houve quem chamasse à pop mais-que-perfeita “easy listeningâ€, mas seria bem menos idiota e mais justo usar a simples palavra “Bacharach†para classificar um género. Importa lembrar Bacharach quando um disco como “Osaka Bridge†nos chega à s mãos. Colaboração entre Bill Wells e Maher Shalal Hash Baz, este disco é um documento raro em procura da melodia perfeita.
Bill Wells, pianista escocês com o hábito de operar nas fronteiras do jazz, consegue reunir no curriculum um conjunto improvável de colaborações: Jad Fair, The Pastels, Lol Coxhill, Belle & Sebastian, Kid Loco ou Evan Parker, entre outros. O estranho grupo japonês Maher Shalal Hash Baz leva já largos anos de actividade, mas a experimentação e o risco continuam a ser caracterÃsticas constantes. Assente num forte sentido melódico, o grupo formado em 1984 por Tori Kudo com alguns vizinhos que nunca tinham tocado antes, balança num limbo entre a melodia pop cheia de açúcar e a possibilidade do erro. Com a edição da box “Return Visit To Rock Mass†(1996) o grupo alcançou uma relativa projecção e chegou a acompanhar ao vivo bandas como Deerhoof ou Red Krayola.
O que esperar deste encontro? Da reunião entre o pianista e compositor escocês Bill Wells e o ensemble Maher Shalal Hash Baz resulta um conjunto de quinze temas sustentados por uma interpretação frágil e bela. Como já não havia há muito na memória recente, este disco é directamente apontado ao coração da música popular. As intervenções dos sopros são preciosas, de tão trémulas, a toada geral é quase débil e por isso - como explicar? - chega a ser comovente. Sobra a segurança do piano a ancorar o equilÃbrio e a estabilidade, a contrabalançar a quase-imperfeição.
Entre a diversidade das quinze composições há voltas nostálgicas, cÃrculos de melodias quentes, manchas de tristeza disfarçada, celebrações de felicidade tÃmida. Entre arranjos jazz, composições pop e desvios psicadélicos, está aqui o grande disco (popular) de 2006. “Música†em estado bruto, redonda e doce e imperfeita. Bacharach anda por aqui, mesmo sem desconfiar. Se neste site ainda houvesse aquela coisa das notas, este disquito lá teria de receber um carimbo “10/10†ou algo conforme. Assim, fica apenas escondido neste cantinho, ninguém dará por ele. Sejamos egoÃstas: as coisas boas guardam-se só para nós e para os amigos.