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Bruce Springsteen The Rising

2002
Columbia


“Eu vi o futuro do rock and roll e ele chama-se Bruce Springstean” – Jon Landau

As palavras míticas de Jon Landau (já com sabor a cliché, mas enfim...), jornalista musical que descobriu Springsteen e que depois produziu os seus discos, ficaram para a história no artigo “Growing toung with rock and roll” publicado em 1974 na publicação “The Real Paper”. Passaram mais de vinte cinco anos sobre esse artigo e Bruce Springsteen continua a ser o futuro do rock & roll, mas como já o era há tanto tempo atrás, é também agora o seu mais brilhante passado.

Porque é que as pessoas gostam e veneram tanto os seus ídolos? Porque se identificam com eles, parece ser a resposta mais fácil. Com Bruce Springsteen passa-se exactamente o mesmo. Apesar de ter uma vida certamente oposta à dos seus fãs, escreve as letras das músicas como se de uma pessoa normal se tratasse. Escreveu sobre diversas profissões e estados, desde bombeiros, a polícias, soldados ou operários, mas a verdade é que Springsteen apenas teve em toda a sua vida um trabalho e só por algumas semanas, não mais, não menos. Em 1960, com 18 anos, foi jardineiro mas logo viu que a sua vida não estava ligada à horticultura. Apesar disso, Springsteen sabe as dificuldades que todos estes empregos têm. Pode nunca ter tido uma semana com 40 horas de trabalho, mas sabe o que essas 40 horas nos fazem sentir. E é nesse pequeno aspecto, que reside talvez o maior trunfo de Springsteen e o que faz dele a figura de proa que é.

Tudo começou em 1973. Em Portugal, fazia pouco tempo sobre a estreia de Sérgio Godinho com “Os Sobreviventes”. Tom Waits estreava-se em disco com “Closing Time”, David Bowie estava no topo do mundo com o seu Ziggy Stardust e começa a existir movimentações de revolução na pop orquestral. É também nesse ano que Springsteen lança os seus dois primeiros álbuns, “Greetings From Asbury Park, N.J.” e “The Wild, the Innocent & the E Street Shuffle”, mas seria dois anos depois que surgiria o seu primeiro grande fenómeno nacional e internacional, “Born to Run”. Nove anos depois e com alguns discos pelo meio surge o clássio “Born in the USA”, disco que colocaria fim na colaboração de Springsteen com a E Street Band, que foi retomada em 2002 com “The Rising”. A actual E Street Band renasceu em espectáculos em 2000, depois consagrados pelo duplo CD “Live in New York City” (2001), e são eles: Roy Bittan (teclados), Clarence Clemons (saxofone), Danny Federici (teclados), Nils Lofgren (guitarras), Patti Scialfa (voz, guitarra e também é mulher de Springsteen), Steven Van Zandt (guitarras) e Max Weinberg (bateria).

“The Rising” é o primeiro grande objecto de cultura popular dedicado ao 11 de Stembro. E para isso, Springsteen foi à “fonte”. Falou com os familiares das vítimas, soube que o marido de Berger salvou dezenas de pessoas antes dos edifícios se desmoronarem à sua volta, ou recordou algumas das notas de amor diárias do marido de Farrely. Mesmo assim, não há uma única referência explicita ao 11 de Setembro em todo o álbum. A tragédia vem sempre embrulhada em bons arranjos florais, as palavras têm sempre uma segunda leitura, nem tudo o que parece é.

O resto, ou seja a música de Sprinsteen, surge assim como ponto menos importante num álbum onde a palavra e o uso que se faz dela têm um papel preponderante, no conto de histórias, de personagens de enredos.

“The Rising” não é um, mas “o” cântico para a América que viu os atentados, e para todos quanto os sofreram directamente, ou não.


Tiago Gonçalves
tgoncalves@bodyspace.net
06/09/2002