Nos Estados Unidos da América, um vagabundo intelectualmente válido e activo é normalmente conhecido por slacker. O realizador Richard Linklater tratou de definir esse termo ao usá-lo para o tÃtulo de um filme que foca Austin, no estado do Texas, como epicentro borbulhante de uma “cena†que o era antes mesmo de Seattle ter sido responsável pela transformação da “música alternativa numa comodidade viável†(tal como frisava Novoselic numa entrevista). O brainstorm intensivo de Slacker dura 100 minutos e termina com o fúnebre “Strangers Die Everyday†dos Butthole Surfers, como que a frisar a efemeridade a que pode estar sujeita uma “cena†em termos de atenção mediática (contra qualquer tendência, Austin mantém-se bem activa com os festivais South by Southwest e Austin City Limits) e a abafar a respiração à racionalidade dos vários manifestos pessoais expostos no filme.
Desde sempre que os Butthole Surfers são amplamente reconhecidos como uma instituição à parte a que nem um contrato com a Capitol foi capaz de suavizar a causticidade psicadélica (apesar de mais acessÃvel, Independent Worm Saloon conta ainda com derrocadas de ruÃdo e as habituais mergulhos em lodo de fuzz e gibbytronix - termo atribuÃdo aos efeitos que o lÃder Gibby Haynes usava para adulterar mefistofelicamente a sua voz). A imundice não enferruja. Parece ser um nervosismo insone a orientar estes Gays in the Military que surgem completamente abstraÃdos do tempo e alienados de qualquer tendência fabril – além disso, representados na capa por um cartoon ridÃculo. A denunciar a associação aos Butthole Surfers, lá está uma versão de “Human Cannonballâ€, que sobressaÃa ao indispensável Locust Abortion Technician pelo riff Sabbathiano e refrão alcoolizado que passa, nas mãos dos GITM, a ser uma triunfante e rÃspida promessa para com um modo de vida “porco, feio e mauâ€.
Há que reconhecer o valor aos tomates de quem ainda escalpa um disco de rock apodrecido aos instrumentos mais baratos adquiridos a uma qualquer loja de conveniência de Greensboro, Carolina do Norte (proveniência da banda). Mais há que obedecer com headbanging que demonstre gratidão para com as guitarras confortavelmente sujas e capazes de armadilhar em viscosidade um esboço de new-wave Devo em “Firepigs: A Tribute to America’s Heroes†e ressuscitar os Murder City Devils em “Hips or Lips?â€. Igualmente surpreendente é o facto de "A Message for the Fans (I'm Going to Kill All the Fans)" formar a ilusão da visita vocal do Fugazi entretanto tornado produtor, Guy Piccioto, que não é mais do que o teclista C.P.O. Sinkole que berra também quando a missão o exige. Embora não tenha para oferecer nada de particularmente inovador, People is Beautiful funciona bem como obscuridade de reserva para uma circunstância de embriaguez colectiva ou como arma de retaliação para mau gosto musical na vizinhança. Os festeiros-chique Art Brut e Hold Steady borravam-se em unÃssono perante a ameaça desta tropa. Nem que seja por isso, é uma aposta ganha.