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CMYK Live at Re*PLAY

2006
Cãoceito


O underground português da música experimental pode não ser muito alargado, mas os seus participantes têm o vício de colaborar habitualmente em múltiplas aventuras e projectos, contribuindo assim para um ambiente variado, difuso e estratificado. Um exemplo desta actividade fervilhante é o cd-r que recentemente nos chegou às mãos. Live at re*PLAY, gravação do grupo CMYK, é uma amostra da interacção entre quatro elementos: Ivan Lopes, Jorge Trindade, Arthur Chorosky e Arthur Pereira. Resultante da actividade destes quatro músicos surge uma música assente no saxofone tenor (de Chorosky) e na percussão/bateria (Pereira), sobre os quais acrescem efeitos electrónicos.

Neste trabalho, gravado ao vivo, o ritmo é trabalhado de forma regular, sendo que o saxofone opta por seguir um discurso que parte do jazz para uma certa precisão funk, por vezes culminado em desvarios free de intensidade maior. Sobre esta base são acrescentados diversos efeitos. Ivan Lopes adiciona sons de materiais diversos como game boy, brinquedos electrónicos de fabrico caseiro e laptop. Jorge Trindade (AKA Travassos), membro regular da Variable Geometry Orchestra de Ernesto Rodrigues, entre outros projectos, manipula fita magnética e brinquedos.

Da união destes elementos é resultante uma profusão de sons que revela um caldeirão de referências. Em apenas pouco mais de vinte e um minutos, divididos por sete faixas, surge-nos um carrossel de cores, choques e contrastes. A utilização de sons provenientes de objectos musicais menos evidentes como brinquedos e game boy demonstram o carácter eminentemente lúdico desta produção. Entre a experimentação aguda de carácter pop (lembremos os Stealing Orchestra, que transformam lixo em luxo) e um certo jazz de contaminação funk (Joe McPhee circa 1970), CMYK é uma nova forma de música. A brincar, para levar a sério.


Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
05/06/2006