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Jasmin EP 01 / EP 02

2004 / 2005
12 Rec / Rote Sonne


Remetamos a uma provisória quarentena a redundância pós-rock deste par de EPs. Antes de mais, importa frisar ao perfil musical de Alexander Peterhaensel uma qualidade que volta a estar em evidência no lugar que ocupa no trio Jasmim - o de tecelão de texturas electrónicas que, a tempos, vão sendo combinadas com a tradicionalidade da guitarra, baixo e bateria (de que também se ocupa Alexander). Aos loops e subtilezas digitais que espontaneamente vão surgindo em 01 e 02, adivinha-se um dom para a ciência da repetição aguçada por uma manipulação deus ex-machina que subtrai e adiciona só para observar a reacção do rock a essa mudança. Embora num registo completamente distinto (alheio a conduta rock), assim já acontecia no televisivamente onírico Vous rêvez / vous ne rêvez pas, que Peterhaensel gravou para a Crónica adoptando o nome de Tilia, o seu disfarce mais assumidamente electrónico: opunham-se em câmara fechada tonalidades várias, submetiam-se essas a mutações subliminares e aguardava-se que isso resultasse num colorido inédito. Em Tilia, esse jogo fazia brotar da mouche uma explosão difícil de descrever por palavras. Nos Jasmin, a ciência de Peterhaensel conta com uma companhia que muito naturalmente relegará à indiferença um ouvido que conheça um qualquer par de discos da Kranky.

Presume-se a partir de tudo isto que o aprumo aplicado aos loops não seja equivalente ao que se distribui pela instrumentalização mais corriqueira. Quando é a própria página da Rote Sonne a admiti-lo, não há muita volta a dar ao assunto: os Jasmin militam num pós-rock de guitarras que tem por aditamento casual a electrónica. Ambas as componentes são tão discretas quanto uma brisa de maresia e por vezes tão simples quanto um rock digesto com probabilidades iguais de conquistar os aficionados de indie circa 1996, como de correr o risco de ver o seu nome esquecido num ferro-velho de banalidade. Certezas só mesmo todas aquelas que ditarem distância entre os panteões qualitativos que ocupam estes Jasmin e os Mogwai de Come on, die young.

Não são raras as vezes em que apetece confrontar os EPs com um Cut to the chase! / Vamos ao que interessa, meus rapazes!. Isto quando sobra a ideia de que já passou por aqui em tenra idade qualquer músico que tenha habitado Chicago na década de noventa e transposto essa vivência (e convívio com o meio musical) para as cordas de uma guitarra. “Heute im stadion” – surgida quando o segundo EP liga a ignição - ainda chega a motivar por interferência daquela guitarra esgalhada como que a partir de uma garagem-bunker onde os calendários têm cruzados todos os dias póstumos ao presente. Comparados a esse ponto alto, todas as três faixas que compõem o primeiro EP soam a fait-divers num panorama pós-rock sobrepovoado.

A seu derradeiro favor, o trabalho dos Jasmim conta com disponibilização gratuita em MP3 nos sites a que se podem aceder ao clicar o nome das labels no topo deste artigo. A cavalo dado não se olha o dente, mas de um pós-rock maior de idade espera-se algo bem mais surpreendente. Além de manco partir por ausência de personalidade que se lhe acarinhe, pode-se dizer das breves amostras, que o combo rock/electrónica a que se propõem resulta algo trôpego e incompatível. Apetece dizer: o amor deles é um cão-Batman.


Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
31/05/2006