O nome Paco Charlin pode dizer pouco à maioria dos portugueses, mas já é um dos mais relevantes músicos de jazz do país vizinho. Tendo como ponto alto da sua formação musical a passagem pela prestigiada Berklee College of Music, o contrabaixista Charlin é colaborador habitual do Seminário Permanente de Jazz de Pontevedra e já tocou ao lado de nomes como Mark Turner, Sheila Jordan, Steve Kuhn, Miguel Zenon ou Bernardo Sassetti. Tem participado, desde 1995, em dezenas de gravações como convidado, onde se destacam os nacionais Tribute to Bessie Smith de Jacinta ou Tribology do pianista Rodrigo Gonçalves. Em 2005 editou finalmente em nome próprio, e logo com dois projectos diferentes: The Ultimate Jazz Earth-tet e Jazz Frequency Group.
Este The Ultimate Jazz Earth-tet é um ambicioso projecto onde Charlin se faz acompanhar por músicos americanos em quarteto – Jaleel Shaw (sax alto), Jonathan Kreisberg (guitarra) e Donald Edwards (bateria). O disco é composto por nove temas, todos da autoria de Charlin, que aqui revela talento na composição. Para lá da faceta de compositor, mostra que é um óptimo acompanhante rítmico, para além de exibir boas qualidades quando chamado a solar - atenção aos temas “Improlography” e “Tale of a Child” (que lembra “Mr. Brody” do Single de Carlos Bica).
Quase sempre conduzido pelo diálogo entre o saxofone de Shaw e a guitarra de Kreisberg, o disco revela-se agradável. Há alguns bons improvisos, nomeadamente por parte de Jaleel Shaw, e o contrabaixo tem mais espaço do que é habitual numa gravação jazz em quarteto. Do alinhamento destacam-se, para além dos já referidos temas a solo, a hardbopiana “2K2” e a música número sete, “JVP” – uma bela balada que poderia ser uma homenagem ao jogador de futebol João Vieira Pinto, ex-capitão do Benfica.
Este primeiro lançamento da editora Free Code Jazz Records peca apenas por alguma falta de ousadia formal. Demasiado clássico e reverente, corre o risco de passar despercebido, entre tanta produção discográfica jazzística que é actualmente editada. No entanto, para lá do disco, há um músico a merecer atenção e de quem, se o tempo correr a seu favor, iremos ouvir falar bastante nos próximos tempos.