Amar a pop sobre todas as outras coisas. Este parece ser um dos mandamentos dos My Morning Jacket. Independente, com o olho no passado ou no futuro, melódica ou mais exploratória, psicadélica ou nem por isso, mas amar a pop. As questões de Rob em Alta Fidelidade eram mais do que razoáveis: “What came first, the music or the misery? People worry about kids playing with guns, or watching violent videos, that some sort of culture of violence will take them over. Nobody worries about kids listening to thousands, literally thousands of songs about heartbreak, rejection, pain, misery and loss. Did I listen to pop music because I was miserable? Or was I miserable because I listened to pop music?”. Rob tem razão, mas aqui, no primeiro tema deste Z, produzido por John Leckie, dificilmente encontrarão resposta para qualquer uma dessas questões, ainda para mais quando o primeiro destes temas se intitula “Wordless Chorus” – e todos sabemos como as verdades se encontram sempre nos refrões. “We forgot about love, but weren’t heartbroken”, diz-se já perto do fim. A história acaba relativamente bem, portanto.
Pop essencialmente redondinha, com traços de algum surrealismo e magnificĂŞncia – um pouco como as figuras azuladas do fabuloso artwork deste disco – mas tambĂ©m algum arrojo que aqui cai especialmente bem. É aquilo que se oferece por cá no quarto disco de uma banda que sofreu alterações de formação nos Ăşltimos tempos. Em Janeiro de 2004, depois do lançamento de It Still Moves, Johnny Quaid e Danny Cash deixaram os My Morning Jacktet para trás e foram substituĂdos por Bo Koster (nos teclados) e Carl Broemel (na guitarra). Mas pode-se com toda a legitimidade dizer que neste caso o paciente recuperou bem e voltou a andar passado pouco tempo. E provavelmente sem fisioterapia ou terapia de grupo. NĂŁo sĂŁo os mesmos cinco mĂşsicos de outros tempos, mas sĂŁo ainda os My Morning Jacket, de manhĂŁ ou ao fim da noite, sem engelhos e cheiro a mofo. Tal como o casaco que se veste de manhĂŁ, a mĂşsica dos My Morning Jacket Ă© de uso rápido.
Prova da boa forma dos norte-americanos sĂŁo temas como “It beats 4 U” (a fazer lembrar e de que maneira os Radiohead, banda que de resto já viu um disco seu ser produzido pelo mesmo John Leckie que produz este Z) e a solarenga “Gideon”, com referĂŞncias Ă religiĂŁo. Na generalidade dos temas, a voz de Jim James, cristalina, sonhadora e humana, Ă© o centro de tudo, mesmo que esteja rodeado de pianos, guitarras ou mesmo cordas. E já que estamos nos arranjos, Ă© justo dizer que os mesmos existem aqui em Z apenas na medida certa para que seja possĂvel levar estas dez canções a bom porto. É a Ăşltima letra do alfabeto mas Z, o quarto álbum da carreira da banda de Louisville, Ă© um daqueles discos pop de 2005 que gostamos de ter na primeira fila.