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Nick Cave & The Bad Seeds From Her to Eternity

1984
Mute / Elektra


Abandonados os The Birthday Party, Nick Cave decidi juntar-se aos Bad Seeds, uma banda que por certo e ao contrário da banda anterior, permitiria ter o espaço de manobra que ele tanto desejava, já que todos os membros eram excelentes instrumentistas. Os Bad Seeds eram uma banda de post-punk constituída por Birthday Party (guitarra), Mick Harvey (bateria), Barry Adamson (baixo), e Blixa Bargeld (guitarra). A carreia de Nick Cave já vai longa, e desde a sua estreia em 1984 não têm existido muitos intervalos entre os títulos (nunca passaram mais de dois anos), tendo até 2001 lançado cerca de 15 discos.

O disco que assinala o começo das colaborações entre Nick Cave e os Bad Seeds é este “From Her to Eternity”, e de facto não podia ter existido uma estreia melhor. Nick Cave explora neste disco uma música escura e sombria, muito fruto da influência de Leonard Cohen. Até porque, o tema que abre o álbum “Avalanche” não é mais do que uma versão de um tema do Canadiano. Outra das influências de Nick Cave é Scott Walker, e muitas das características “escuras” que encontramos neste álbum provém mesmo daí.
“From Her to Eternity” inclui ainda uma versão de um tema de Elvis Presley, “In the Ghetto”, e é talvez de todos os temas do disco, aquele com um ar menos sombrio e o que se aproxima mais da canção pop normal.

Um álbum intenso, devido a uma carga teatral vocal muito grande, mas também e sobretudo pela força dos cenários líricos envolvidos.

Mas atenção que este não é um disco fácil. As letras sombrias e tenebrosas, as referências bíblicas e góticas, as melodias dramáticas, obsessões com a religião, morte, amor e violência, podem ajudar a que o ouvinte de música mais sensível rejeite de imediato o álbum.

Há quem aponte este disco como o melhor da carreira de Nick Cave, há quem aponte o “Tender Prey”, mas isso neste momento não interessa. Interessa isso sim, que este disco inclui clássicos como “From Her to Eternity” (com uma segunda leitura de palco no final do disco), “Cabin Fever" ou “The Moon Is in the Gutter”.

Um disco difícil, mas que merece os maiores créditos visto se tratar de um dos melhores documentos alternativos no género, e um disco que só pode melhorar com o tempo.


Tiago Gonçalves
tgoncalves@bodyspace.net
28/08/2002