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Leonard Cohen Songs of Love and Hate

1971
Columbia


Leonard Cohen... dele se diz ser um grande poeta, mas como o grandes artistas, sorri e diz que sabe que não é dos melhores, e que duvida que seja sequer bom. Sabe que existe Shakespeare, Cervantes ou Lorca, e que comparar a sua obra com a deles significa arrumar a dele no lugar mais escuro e húmido da casa. É óbvio que Leonard Cohen é de facto um grande poeta, e o seu discurso de falsa modéstia talvez signifique apenas que as suas letras sejam feitas com base naquilo que vive, e como tal, têm a importância que se deve dar a coisas sem importância. Devido a essas letras dizia-se que os seus discos deveriam vir acompanhados de algum objecto cortante, uma lâmina de barbear por exemplo. Leonard Cohen sorri mais uma vez. Nunca quis deprimir ninguém, apenas transportava para as letras das canções os seus sentimentos mais íntimos. Leonard Cohen era honesto. E isso vê-se na sua música.

Um dos mais importantes songwriters de finais de 60 e inícios de 70 (apesar de ter já editado um álbum em 2001 com uma vitalidade assinalável), teve um bom conjunto de seguidores nestes últimos anos. Nasceu em 1934, numa família de classe média em Montreal, no Canadá. Cedo começou a tocar guitarra, para impressionar as raparigas (a fama de Cohen é enorme...), mas como qualquer talento nato, começou a despertar a curiosidade de todos quanto o ouviam e passou a dar concertos regulares. Já na década de 60 (antes de se estrear em disco) participa em duas novelas, “The Favorite Game” (1963) e “Beautiful Losers” (1966). Estreia-se discograficamente aos 34 anos, em 1968 com “The Songs of Leonard Cohen” naquele que ainda é hoje considerado por muitos o seu melhor álbum. Dois anos antes deste “Songs of Love and Hate” editaria ainda “Songs from a Room” (1969).

“Songs of Love and Hate” (literalmente “Canções de amor e ódio”) é um álbum emocionalmente intenso. Apresenta retratos de paixão e dor, sob as palavras sempre certas e ardentes de Cohen. A música é essencialmente acústica, assumindo a dupla voz/guitarra um papel preponderante. O álbum é produzido por Bob Johnston e apesar das lendárias discussões de Cohen com Spector na produção de “Death of a Ladies’ Man” (1977), correu tudo bem. Johnston dera um espaço de manobra relativamente grande a Cohen, e este conseguiu expressar da melhor forma aquilo que lhe ia na alma. Canções como “Famous Blue Raincoat," "Joan of Arc," e "Love Calls You by Your Name” representam essa mesma expressão.

Uma dramaticidade profunda, uma voz grave e amarga, letras honestas e verdadeiras (“sempre apresentei a minha vida como uma busca pela verdade”), melodias nobres. Ingredientes que quando bem misturados dão um resultado tão estimulante como “Songs of Love and Hate”, um trabalho íntimo e pessoal. Leonard Cohen consegue juntar como poucos outros, de uma forma tão boa, palavras e notas. Essas junções só podem dar resultado em bons discos, “Songs of Love and Hate” é a prova imediata disso mesmo.


Tiago Gonçalves
tgoncalves@bodyspace.net
26/08/2002