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White Out c/ Jim O’Rourke e William Winant China Is Near

2005
ATP


Lin Culbertson e o baterista Tom Surgal formam dupla nos White Out (que entraram em cena em 1995), projecto aglutinador de experiências experimentais que em tempos editou um par de discos na Ecstatic Peace, o selo de Thurston Moore. Mas desde o momento em que se formou, o duo White Out – o núcleo duro – contou já com o contributo de muito boa gente (Thurston Moore, Mike Watt, Nels Cline). Os White Out têm a perfeita noção que a variação de elementos neste tipo de projectos pode contribuir decisivamente para a exploração de diferentes territórios influenciados pelas experiências de cada um – pode ser o passo necessário para levar tudo para o próximo nível – e por isso estiveram sempre bem acompanhados. Aqui, no terceiro disco dos White Out e no número 12 da ATP Recordings, acolhem dois calejados habituées na matéria: Jim O'Rourke e William Winant.

Além de partilharem o mesmo espaço físico do que a No-Neck Blues Band (a sempre fervilhante Nova Iorque), os White Out, independentemente das colaborações, movem-se num espaço musical muito similar ao do colectivo que um dia foi apontado como a nova banda favorita de John Fahey - que havia de editar Sticks and Stones May Break My Bones But Names Will Never Hurt Me na sua Revenant. Em China is Near sobressai prontamente a artilharia percussiva (manejada por Tom Surgal e William Winant que aqui formam uma aliança indestrutível) que abre caminho para que outros elementos possam coabitar entre si - a electrónica penetra imensas vezes nesse corpo indefinível, mas também sinos, sintetizadores analógicos, gongos, correntes, etc. E no meio de toda esta sugestão de estranheza e um certo desconhecimento reside uma certa beleza; uma certa beleza que pode aumentar por exemplo com a total ausência de conhecimento de alguns instrumentos ou, vá lá, coisas ou objectos utlizados para reproduzir certos sons, para criar a manta sonora. A necessidade aguça o engenho, está certo, mas neste caso é mais o desconhecimento aguça a curiosidade.

“Ghost Mirror Imageâ€, a primeira e mais longa composição de China Near (estende-se para lá dos 13 minutos), é deambulação por meio de percussão solta, ruídos variados, minudências electrónicas estelares, manifestações de criaturas metálicas e interferências; algo como jazz espacial com sublinhado free. Algo para se consumir no e com o cérebro. O que por aqui se alcança é mais um capítulo da contínua e livre exploração sonora, bandeira hasteada pelos White Out há mais de uma década. Há pouco mais de três anos, Derek Bailey, entretanto falecido em Dezembro de 2005, dizia: “Opinions about free music are plentiful and differ widely. They range from the view that free playing is the simplest thing in the world requiring no explanation, to the view that it is complicated beyond discussion. There are those for whom it is an activity requiring no instrumental skill, no musical ability and no musical knowledge or experience of any kind, and others who believe it can only be reached by employing a highly sophisticated, personal technique of virtuosic dimensions. Some are attracted to it by its possibilities for musical togetherness, others by its possibilities for individual expression. There is, as far as I know, no general view to be givenâ€. Cabe então a cada qual fazer a sua própria escolha.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
28/01/2006