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Monolake Polygon Cities

2005
[ ml / i ]


Tons of bytes have been shuffled. Millions of samples have been scanned for peaks. Giant membranes compressed the air in patterns, endless repetition filled the room. Decisions have been made, ideas have been re-thought. Again and again.”. Pelo menos é o que se pode ler acerca deste Polygon Cities na página oficial de Robert Henke – o homem que se esconde por detrás do epíteto Monolake. Robert Henke nasceu em Munique por volta de 1969, mas em 1990 mudou-se para Berlim. Começou a fazer música com Gerhard Behles e até enveredou pelo estudo de engenharia do som na Hochschule für Film und Fernsehen em Potsdam Babelsberg, onde acabou por fazer instalações sonoras e bandas sonoras para filmes. Para garantir a sua independência fundou o selo Imbalance Computer Music (que é anunciado não como uma editora “real” mas sim apenas como uma construção que permite lançar exclusivamente os discos de Monolake) e pouco depois o projecto Monolake passou a ser unicamente da sua responsabilidade (embora não negue a possibilidade de colaborações a amigos seus). Entretanto a música de Monolake já soprou as 10 velas de aniversário.

Polygon Cities, erigido por Robert Henke e T++ no Centre de la Recherche Numerique desde o Verão até ao Inverno de 2004, é por isso uma bela prenda de aniversário para o próprio Robert Henke, por mais deprimente que a ideia possa parecer. E os resultados são óptimos. O techno que aqui se faz é o de rompimento das barreiras. É frio e por vezes até gelado, é tão robótico quanto as máquinas assim o permitem, é tão despido quanto a imaginação de Robert Henke o permite; é agressivo sem ser ofensivo, é mecânico sem ser artificial. Polygon Cities nasceu num laptop em programas como o Ableton Live (algures nesta história Gerhard fundou a Ableton, uma companhia para criar software musical) mas há também sons extraídos de amigos tão conjugáveis como Prophet, Yamaha e Oberheim. E não é então surpresa alguma que o novo disco de Monolake manifeste sentimentos orgânicos, que se sinta algum toque humano por detrás das batidas maquinais. Mas, no geral, o que se sente é um certo futurismo glacial que trespassa este Polygon Cities nas suas ambiências e na voz feminina algo robótica que se pode ouvir neste disco de tempos a tempos.

“Pipeline”, a primeira exploração do disco, é uma impressionante mistura de sons metálicos com elementos mais quentes cruzada pelas batidas intrincadas. Por isso e muito mais, é a melhor faixa deste Polygon Cities. “Axis”, a esconder tempestades com as suas batidas complexas, paisagens gélidas e chuva metálica é apenas mais um excelente exemplo da mestria de Robert Henke. Mas a viagem só se dará por proveitosa com passagem obrigatória por temas como “North” e “Carbon” e não surgirá perturbação alguma se um dub clandestino mostrar a cara e os dentes. Tudo feito com a maior argúcia e perspicácia. Robert Henke tem uma relação bastante ambivalente com os sons techno mais óbvios e, apesar de achar que resultam bem, tenta fugir-lhes, pois para si a música mais subtil é aquela que se torna mais satisfatória (a procura da mudança por parte de Robert Henke está bem expressa na citação que abre este texto). Para quem desejava expressar emoções com mudanças mais subtis na música, para quem se interessa por tudo aquilo que está entre o preto e o branco (o cinzento e as suas variações) Robert Henke está, com Polygon Cities, mais perto de conseguir tudo isso do que nunca – e daí talvez já o tenha conseguido. A palete de cores não se dá ao plural mas sim ao singular – é maioritariamente cinzenta, claro está – como se o futuro próximo estivesse a pensar seriamente em abolir as cores mais quentes.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
28/11/2005