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Jesus with Me Jesus with Me

2005
Psych-o-path Records


Quis o destino que, algures nos finais dos anos 90, quatro imigrantes vindos da Rússia se conhecessem em Nova Iorque e começassem a fazer jams todos juntos – que aconteciam todas as sextas-feiras e que se prolongavam pela noite dentro - na procura de um sinal qualquer vindo de um local qualquer que os levasse para um outro local qualquer. Diz-se que Ed era o único com experiência musical (ganha ao tocar com bandas de metal e bandas de casamentos, uma mistura que promete desde logo resultados no mínimo interessantes), que Igor – o fundador do selo Psych-o-path onde o disco surge editado - era o mais decadente e dedicado ao free jazz e que escolheu o baixo, que Dmitry era uma espécie de génio doido que gostava dos Ramones e que espancava a sua bateria. Diz-se ainda que Simon fazia solos de guitarra sem fim. Tudo isto parece um conto de fadas, mas o facto é que é verdade. E os restantes pormenores ficam para quem viveu a história de perto, um conto tão improvável quanto merecedor de relato.

E tanto é verdade que durante cerca de um ano os Jesus with Me – nome dado ao quarteto não só porque sentiam uma espécie de presença (nas palavras de Edward, “Jesus came when we played today”), mas também porque queriam atingir um espírito mais elevado – estiveram envolvidos em alguns concertos locais, inclusive a fazer as primeiras partes de bandas como os Sightings, No Neck Blues Band, Endless Boogie, e os Acid Mothers Temple. E talvez os seus antigos companheiros de concertos sejam precisamente os indicados para explicar o que é que se passa nestas duas longas faixas (“Silence in the Space of Half an Hour” e “And They Sang a New Song”) que compõem o disco homónimo. Expressões como “ruidoso”, “psicadélico” e “solos intermináveis de guitarra” são algumas das expressões que melhor descrevem o caos que os Jesus With Me aqui instalam. Um caos consumado através de uma densa massa sonora criada por guitarras, pelo baixo e pela percussão, por isso as expressões “distorção”, “desordem” e “distúrbios sonoros capazes de provocar um motim” também não caem em saco roto.

E quase se pode dizer que este Jesus With Me é um disco que existe por sorte. A verdade é que os Jesus With Me já não existem como banda e foi graças a Ed – que conseguiu gravar algumas dessas jams all night long com os meios possíveis - que o quarteto existe para além de uma história de amigos, do boca a boca ou do mito da banda das sextas-feiras à noite. Mas não se pense que é caso único. Já em 2003 a compilação Space is No Place, NYC: Noise from the Underground - editada igualmente no selo Psych-o-path - juntava nomes como Electro Putas, Mouthus, Sightings, Mountains of Mata Llama, No-Neck Blues Band e os próprios Jesus With Me com o tema “Never Got to China”, num documento que mostra o noise feito em Nova Iorque visto de várias e interessantes perspectivas. Mas ainda no que aos Jesus With Me diz respeito, apetece dizer: Ele está no meio de nós.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
28/08/2005