Apesar de partilharem uma formação em tudo similar aos Lightning Bolt (um baixo, uma bateria), o duo Death From Above 1979 Ă© de Toronto e pertencente a um mundo musical distante do do duo de Providence. Mas isso nĂŁo faz propriamente de Sebastien Grainger e Jesse Keeler uns meninos, pois You're a Woman, I'm a Machine Ă© um disco suado, violento, extremamente fĂsico e capaz de derramar sangue no chĂŁo, no moshpit ou – quem sabe – na pista de dança. Sim, porque You're a Woman, I'm a Machine Ă© disco para a menina, para o menino, para o fĂŁ do metal, para o fĂŁ do punk, para o fĂŁ o pĂłs-punk mais atirado para a dança. Mais, porque apesar de se fazer apenas de baixo, bateria, voz e alguns pequenos e raros apontamentos nos teclados, You're a Woman, I'm a Machine Ă© surpreendentemente variado e diverso. NĂŁo se pode dizer que seja uma caixinha de surpresas, mas aguenta bem teimosas audições.
Talvez seja um disco de raiva, em raiva. Talvez seja um disco suado e bem suado em resposta Ă DFA Records – a editora de James Murphy que obrigou o duo canadiano a mudar de nome. Talvez seja aquilo que muitas das bandas pares dos Death From Above 1979 estejam a tentar cozinhar num estĂşdio ou numa garagem qualquer. Mas Ă© melhor que optem pela segunda opção, pois este You're a Woman, I'm a Machine Ă© disco sujo, trashy, Ă© disco maroto, e por isso nĂŁo precisa de grandes pormenores tĂ©cnicos para se fazer valer. Precisa Ă© de riffs com peso de toneladas, ganchos machões e de canções cada vez mais velozes e furiosas. Basta uma olhadela pelos tĂtulos das canções para perceber que misturar “romance”, “guerra fria”, “resultados sensuais” e “sangue” nĂŁo Ă© coisa fácil, mas se alguĂ©m o tem mesmo de fazer que seja rápido. E foi o que aqui se fez: You're a Woman, I'm a Machine sĂł ultrapassa a meia hora por cinco minutos e um segundo. Concentrado, urgente, coerente, premente.
Fica-lhes bem entĂŁo as rajadas metal de “Turn it Out”, o baixo cano de escape de “Romantic Rights”, o romantismo bizarro, lamechĂŁo e entre famĂlia de “Going Steady” ("I have never seen you suffer / I will never hurt you, lover"), a euforia quase adolescente de “Blood on our Hands” e a acalmia de “Black History Month”, momento perfeito para um jogo de sempre bem-vindas palminhas e atĂ© para um crescendo final em forma de construção de uma muralha de som. Mas descrever canção por canção Ă© um exercĂcio demasiado redutor para um disco que se quer ouvido do inĂcio ao fim, sem saltar qualquer uma das faixas. O que nĂŁo se pode ignorar igualmente Ă© que a capa do disco parece mostrar Bruce Lee e John Bonham com trombas de elefante e de costas voltadas. E todos sabemos como ambos davam porrada.