NĂŁo, nĂŁo acho que a inovação seja um fim que desculpe todas as chatices, todos os pormenores foleiros ou o que quer que seja. Muitas vezes, na incessante busca pela inovação e pela originalidade, esquece-se a substância, a emoção e, em muitos casos, a audibilidade. O problema Ă© que hoje em dia a mĂşsica já deu tantas voltas que Ă© difĂcil – nĂŁo impossĂvel – conciliar a busca de algo novo com a diversĂŁo ou o prazer auditivo.
Ă€s vezes o melhor Ă© concentrarmo-nos na beleza e nas canções. Um pouco como fez Francisco Silva, o jovem nortenho que lança mĂşsica sob o nome Old Jerusalem. Primeiro em April, um dos maiores ĂŞxitos das editoras independentes em Portugal, e agora em Twice the Humbling Sun. SĂŁo canções bonitas, com uma boa produção de Paulo Miranda (The Unplayable Sofa Guitar) e com boas letras em inglĂŞs, lĂngua que soa natural e nĂŁo forçada.
“180 Days” engana, protagonizando um inĂcio acelerado que Ă© logo castrado pela guitarra elĂ©ctrica preguiçosa de “O Joy of Seeing You”. Logo depois, “Chubby Mounds” fala-nos de dois pecados mortais: preguiça (“My sorry ass is sitting in the hot sun for too long”) e luxĂşria (“I’m longing for the action that your breast seems to invite”). Tem um dedilhado acĂşstico belĂssimo e a voz nĂŁo-musical de Paulo Miranda que acompanha trechos como “Tonight there is a party, will you come?”.
“Earlier the Lake Today” Ă© alguĂ©m que pinta um quadro de dois amantes no banho. Aqui ocorre, como noutros lados, a repetição das palavras “ass”, “breast” ou “buttocks”, que atestam a carga erĂłtica forte do disco. Esta nĂŁo Ă© atestada pela repetição de palavrões como “fuck”, que aqui tĂŞm outro significado nĂŁo-sexual. “A Reasonable Way of Thinking Things” Ă© alguĂ©m que se desculpa (“Well I didn’t mean to / it was the glow of your eyes”) por ter dito a alguĂ©m que a amava. Tem um refrĂŁo belĂssimo, com um bom riff de guitarra e aqui tambĂ©m com a voz pouco musical do produtor. As guitarras distorcidas e sĂłnicas de “To the East, Son” e os sintetizadores espaciais de “Finally For Me”, o Ăşltimo tema, descartam a ideia de este ser apenas um disco de contornos folk/alt. country.
Twice the Humbling Sun Ă© um segundo disco belĂssimo, cheio de canções Ă sĂ©ria. Um disco mais maduro, talvez mais bonito que April, apenas peca por nĂŁo ter “Each One as Lovers”, canção que apareceu na compilação espanhola Acuarela Songs 3 editada em 2004. É um disco para ouvir, para sentir, para viver e esquecer a preocupação excessiva com o raio da inovação. Porque Ă s vezes sĂł precisamos das canções e as canções sĂŁo aquilo que fica no fim.