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Old Jerusalem Twice The Humbling Sun

2005
Bor Land


Não, não acho que a inovação seja um fim que desculpe todas as chatices, todos os pormenores foleiros ou o que quer que seja. Muitas vezes, na incessante busca pela inovação e pela originalidade, esquece-se a substância, a emoção e, em muitos casos, a audibilidade. O problema é que hoje em dia a música já deu tantas voltas que é difícil – não impossível – conciliar a busca de algo novo com a diversão ou o prazer auditivo.
Às vezes o melhor é concentrarmo-nos na beleza e nas canções. Um pouco como fez Francisco Silva, o jovem nortenho que lança música sob o nome Old Jerusalem. Primeiro em April, um dos maiores êxitos das editoras independentes em Portugal, e agora em Twice the Humbling Sun. São canções bonitas, com uma boa produção de Paulo Miranda (The Unplayable Sofa Guitar) e com boas letras em inglês, língua que soa natural e não forçada.

“180 Days” engana, protagonizando um início acelerado que é logo castrado pela guitarra eléctrica preguiçosa de “O Joy of Seeing You”. Logo depois, “Chubby Mounds” fala-nos de dois pecados mortais: preguiça (“My sorry ass is sitting in the hot sun for too long”) e luxúria (“I’m longing for the action that your breast seems to invite”). Tem um dedilhado acústico belíssimo e a voz não-musical de Paulo Miranda que acompanha trechos como “Tonight there is a party, will you come?”.

“Earlier the Lake Today” é alguém que pinta um quadro de dois amantes no banho. Aqui ocorre, como noutros lados, a repetição das palavras “ass”, “breast” ou “buttocks”, que atestam a carga erótica forte do disco. Esta não é atestada pela repetição de palavrões como “fuck”, que aqui têm outro significado não-sexual. “A Reasonable Way of Thinking Things” é alguém que se desculpa (“Well I didn’t mean to / it was the glow of your eyes”) por ter dito a alguém que a amava. Tem um refrão belíssimo, com um bom riff de guitarra e aqui também com a voz pouco musical do produtor. As guitarras distorcidas e sónicas de “To the East, Son” e os sintetizadores espaciais de “Finally For Me”, o último tema, descartam a ideia de este ser apenas um disco de contornos folk/alt. country.

Twice the Humbling Sun é um segundo disco belíssimo, cheio de canções à séria. Um disco mais maduro, talvez mais bonito que April, apenas peca por não ter “Each One as Lovers”, canção que apareceu na compilação espanhola Acuarela Songs 3 editada em 2004. É um disco para ouvir, para sentir, para viver e esquecer a preocupação excessiva com o raio da inovação. Porque às vezes só precisamos das canções e as canções são aquilo que fica no fim.


Rodrigo Nogueira
rodrigo.nogueira@bodyspace.net
08/07/2005