O nome de Neil Young não deve ser um tabu quando se trata de abordar os discos de Jason Molina. Até porque Molina – sob nome próprio, enquanto parte dos Songs: Ohia ou na liderança dos Magnolia Electric Co. - nunca fez por ocultar a devoção que serve de norte à s suas crónicas de estrada. Submeta-se What Comes After the Blues ao faro do Inspector Max e é bem provável que identifique o asfalto e ganga de Neil Young. É infalÃvel. Quando alguém se atreve a estabelecer um trecho de “Out on the Weekend†como cume para o seu disco ao vivo Trials and Errors (o primeiro dos dois lançamentos referentes a 2005) e a encerrá-lo com uma achega a “Tonight’s the Nightâ€, tem de estar preparado para os reveses de um termo comparativo que persegue. Um tributo actualizado à obrigatoriedade de Neil Young poderia até resultar, caso reproduzisse a magia de Zuma ou Harvest, em vez de se ficar pela mediania obscura de American Stars ‘N Bars ou Hawks & Doves.
Esta, tal como todas as outras, parece ser mesmo a noite. A sensação transversal de What Comes After the Blues é facilmente associada à rotina do operário country, que, a cada amargura exorcizada, risca dias no calendário de um Oeste esquecido. O aparato é proporcional à intensidade do sentimento por enterrar: a redenção microscópica de “Hammer Down†conhece apenas voz e guitarra acústica; “The Dark Don’t Hide it†– pronto a rodar na rádio local - merece um tratamento grandioso, capaz de unir, num refrão, todos os passageiros de uma pick up. A companhia de electricidade proporciona um serviço impune, mas não há faixa que solte faÃsca (ainda que a citada “Hammer Down†ande lá perto, pela via do anti-clÃmax).
Ainda assim, a abundância de atalhos e alternativas torna suficientemente convidativo o universo Jason Molina para quem dispõe da paciência necessária para formar uma excelente antologia a partir de dez discos dispersos (será necessário nomear outros músicos igualmente prolÃficos?). Mediante isso mesmo, acredito que, com o tempo, seja possÃvel desenterrar safiras deste What Comes After the Blues, ao qual se adivinha um clemente envelhecer. A obsessão por magnólias, a auto-referencialidade (narcisismo ou fio-condutor, conforme as apreciações) e as odes ao breu terão de sobreviver aos efeitos da erosão provocados pelos discos seguintes. Um condensado de interrogações paira, como uma nuvem negra, sobre Jason Molina e os seus Magnolia Electric Co.
Encontrar resposta para “O que se segue após os blues?†nem sequer é a prioridade neste caso. Muito mais importa saber o que se sucede depois da febre de uma influência que cobre quase por completo qualquer genuinidade que se possa adivinhar ao mentor Jason Molina. Até porque não pode vestir a pele de Will Oldham quem um dia acorda com essa vontade. Ainda não é desta que Jason Molina torna seu aquilo de que se apropria. Nunca o nome da editora Secretly Canadian tinha sido merecedor de tão refinado segundo sentido irónico.