A histĂłria já nĂŁo Ă© nova nem isenta de precedentes. Cinco amigos formam uma banda em Nova Iorque nos inĂcios de 2003, gera-se um burburinho Ă sua volta (o apoio vem da MTV, da Rolling Stone e atĂ© mesmo da Village Voice), gravam um EP e pouco tempo depois o disco de estreia. O sentido de oportunidade Ă© o melhor possĂvel – os tempos em que um revival ou dois vĂŞm sempre a calhar – e as coisas passam de burburinho a confirmação. Os tiques do assim apelidado novo rock estĂŁo todos lá e há pelo menos duas ou trĂŞs canções desejosas por ascender ao estatuto de single e rodarem ad eternum nas playlists das rádios mais cool do planeta. Os Bravery sabem-na toda, Ă© o que Ă©.
O inĂcio de “An Honest Mistake”, o primeiro tema do disco, Ă© tĂŁo New Order, tĂŁo New Order que se recomenda vivamente uma auto-chapada ou um balde de água pela cabeça abaixo para que se acorde do improvável sonho, mas facilmente explicável dĂ©jĂ vu. Enquanto uns gritam “Plágio!”, há quem dance nas pistas ao som de “An Honest Mistake”, de preferĂŞncia com roupas negras, tal como os Bravery. E as razões para a dança sĂŁo várias: ou Ă© o baixo saltitante, as guitarras estridentes e longĂnquas, os coros de vozes, os sintetizadores astutos ou tudo ao mesmo tempo. Talvez sejam as palavras: “Sometimes I forget I’m still awake / I fuck up and say these things out loud”. Talvez seja mesmo o glamour ou o contágio do electro-rock (que o digam os Killers). Ao mesmo tempo, “An Honest Mistake” acaba por estabelecer duas máximas, como que se colocando num ponto intermĂ©dio: a partir daqui, por um lado, toda e qualquer mĂşsica menos interessante ou mesmo intragável será sempre pior do que “An Honest Mistake”; por outro lado, sĂł duas canções conseguem ultrapassar esse mesmo ponto intermĂ©dio, ou seja, ficar acima de “An Honest Mistake”.
E essas duas canções sĂŁo a urgente “Give In”, ou a ânsia de possuir tudo e mais alguma coisa (“All I want is evertything / Everything that I’ll ever be / Everyone that’s coming for me / Nothing happens and eveything is changed”), e a nĂŁo menos premente “Unconditional”, que mesmo assim parece ser um puzzle de influĂŞncias pronto a ser montado, desmontado e voltado a montar. No capĂtulo da voz, entĂŁo, Ă© uma fartura: ora Ă© Bono Vox que assume as funções vocais, ora Ă© Robert Smith que pede aos Cure um aumento nos sintetizadores. Agora as más noticias. Há que dizĂŞ-las. Em “The Ring Song”, os Bravery sĂŁo uns Strokes de segunda para uma plateia sub-16 – tiques de voz incluĂdos. E o mesmo se poderia dizer da solarenga “Public Service Announcement”, nĂŁo fossem os sintetizadores irritantes e os “uuuu” de toalha ao ombro e prancha de surf na mĂŁo. Mas os “uuuu” continuam - oh se continuam - na (como se já nĂŁo bastasse) pouco máscula “Rites of Spring”: “You’re the woman who made me a man”. “Fearless” Ă© um desafio Ă paciĂŞncia de qualquer um e o mesmo se vai para a feita-a-martelo “Swollen Summer”, hino do rock Ă s trĂŞs pancadas.
Há que dizĂŞ-lo: os Bravery abusam. Abusam dos sintetizadores, abusam das guitarras (há neste disco um par de solos de pĂ´r os cabelos em pĂ©), abusam do estilo em detrimento do conteĂşdo e abusam da pachorra de muito boa gente. AtĂ© porque Ă© certo e sabido que os discos nĂŁo se medem aos singles, nem a um par de potenciais bons hits. Em tempo de tantos monges copistas, reciclagem e proliferação de máquinas fotocopiadoras, se os Bravery fossem um acidente de automĂłvel, o mais certo Ă© que nĂŁo demorasse muito atĂ© que um polĂcia de Nova Iorque colocasse trĂŞs ou quatro faixas em redor do sucedido e soltasse um sĂ©rio “nĂŁo há nada para ver aqui, nĂŁo há nada para ver aqui”. E teria toda a razĂŁo.