Não estaremos todos um bocado fartos do Improv, do noise e de fazer barulho for the sake of it? Há qualquer coisa de tremendamente umbiguista nos retalhos de som que vão tecendo a manta do nosso contentamento ou do contentamento deles, dos crÃticos e dos músicos. Começa a faltar paciência para as “descobertas†da editora Kranky de cassetes perdidas nos 90 dos Charalambides. Vão estar ainda de rabo alçado, sempre a fuçar, antes de perceberem que a fonte secou ou então não tarda. O mesmo se passa com o hip-hop progressista. Descobriu-se ali uma galinha dos ovos de ouro e vai de lançar coisas a eito, sem qualquer preocupação estetizante. Por isso, também o hip-hop de fragmentos é tão do ano passado.
Dose One é um repetente nisto mas com cátedra assegurada na divisão do alt-hop. Assim se percebe que Populous, produtor italiano a tentar a sorte nesse comprimento de onda, o tenha convidado para espalhar poesia falada numa das faixas do novo disco. E é logo na segunda, “My Winter Vacationâ€, que é para o ouvinte morder o isco. Aquele hiss de cassete, aquela nebulosidade toda, aquelas palavras circulares lembram qualquer coisa. Que saudades de quando se fazia hip-hop de serviço comunitário, com o credo a desfazer-se em rimas. Há pouco gueto a explorar no Pro Tools.
Mesmo “Hip-hop Cocotteâ€, que parecia de inÃcio desviar-se para a velha guarda, é explorada por Andrea Mangia com o mesmo aparato de circum-navegação das electrónicas de bolso ou laptop. Também há o empréstimo vocal de Matilde Davoli em dois temas, “Bunco†e “Clap Like Breezeâ€, a tactear a folk, a tingir de luz um quarteirão maquÃnico. Ainda se safa a penúltima “Canoe Canoaâ€, que deixa à mostra linhas de guitarra, recortes analógicos, superfÃcies adocicadas pelo dedilhar humano.
Mas o som demasiado glitch de Queue for Love torna-o objecto de uma hibridez que não sabe encontrar resposta corpórea para a excessiva colonização das máquinas. Dá para animar noites lounge e golpear dias de rotina chata mas pouco mais. Foi uma oportunidade perdida.