Se é verdade que se pode associar a música de tonalidades mais ambientais a imagens como paisagens longÃnquas, lugares remotos, o mar em tons sépia, o infinito e o local exacto onde, no horizonte, a linha das ondas se confunde com a linha do céu e demais cenários idÃlicos, os This Is a Process of a Still Life podiam muito bem ser os autores de bandas sonoras para pelÃculas que representam brandos finais de tarde passados junto das águas mornas, manchadas pelos últimos raios do sol – e talvez uma das maiores vantagens da música instrumental seja a liberdade de pensamento distante dos refrões e palavras por vezes desnecessárias. Oriundos de Montana, os This Is a Process of a Still Life – para que a descrição inicial não caia em fundo roto - movimentam-se algures entre uns Sonna e uns Explosions in the Sky menos complexos e dinâmicos. Enquanto uns salivam, outros insultam o pós-rock e confessam-se fartos, mas este é um disco que procura encontrar o meio-termo. O ponto exacto entre os ansiosos por mais e os que já estão a largar o vÃcio, sem exageros ou pretensiosismo, ou seja, um disco para a famÃlia.
Na verdade, pouco mais há a fazer à fórmula do que acrescentar-lhe beleza, algo em que ainda se possa acreditar. Os riffs distorcidos em forma de ganchos que brotam em “Oh God, the Lights are Going Down†são um bom princÃpio, a por vezes vertiginosa encruzilhada de guitarras ou a forma como criam tensão sem explodir em â€No Memory of the Airshow†constituem seguimentos perfeitos. A introdução de novos elementos de tema para tema parece ser uma escolha consciente e democrática como resposta a um túnel que corria muito bem o risco de não ter luz. “Pretty is Predictable†é surpreendentemente uplifting, upbeat e tudo mais que possa traduzir aquilo que é o levantar da escuridão que norteia o par de temas que inicia o disco. Há constantes mudanças de ritmo guiadas pela percussão, guitarras reluzentes, cordas e a confirmação que este não é um disco para passar despercebido. Essa confirmação parece ainda mais clara quando surge a delicadeza de “The Things We Learned About Neptuneâ€, um exercÃcio melódico que explora a doce melancolia e o amargo contentamento, ou um possÃvel acordo entre os dois. É tão upbeat como é “Pretty is Predictableâ€, tem de novo o trilho de guitarras resplandecentes, tem um olho fechado e o outro nas mudanças de ritmo.
Para conferir mais profundidade, há por aqui algures rastos de melódica, sinais de um rhodes sempre delicioso. E depois – claro, não podiam faltar – os samples, aqueles que se podem ouvir no inÃcio de “Skywriting Over Virginiaâ€, provavelmente o tema menos interessante de todo o disco. Mas a remição não demora muito. “Things/cells/beings†faz terminar a viagem, afirmando-se inicialmente como o tema mais ambiental de todos. Algures entre o nevoeiro, aquele barco que desconfiamos desabitado continua o seu rumo para nenhures. Mas a calma é por vezes uma ilusão e as coisas tornam-se vivas e nÃtidas lá mais para o fim, com sinais de guitarras redentoras. Mas não demasiado, senão tornar-se-ia impossÃvel esboçar a visão de um sono perfeito – de preferência após o final do disco - ao som de mais uma narrativa do pós-rock.